A caminho da congénere cidade de Espanha, Mérida. A principal cidade da região de Yuacatán. Uma cidade com muito cariz e personalidade, onde se concentram alguns dos principais senhores do México. Fora da cidade actual, cheguei à região que concentra mais templos e cenotes por metro quadrado em todo o México.
Mérida despertava cedo. Depois de uma longa viagem nocturna num autocarro, Jorge esperava-me na estação de autocarros com algum receio de que tivesse sido assaltada pela noite. Há viagens nocturnas perigosas, os autocarros são assaltados apesar dos controlos da polícia. Eram 5h30m e já toda a cidade estava desperta. Ainda ensonada pela viagem, Jorge faz o reconhecimento do centro histórico num ápice. Passa pela praça da Independência, onde se concentra a catedral, o palácio do governo, o palácio municipal e a casa de Montejo. O povo passa com passo ligeiro cruzando a rua 56 que segue para o mercado Lucas de Galvéz. No cruzamento da rua 50 com a 57, parados no semáforo, olho a fila que aguarda o autocarro. Um homem gordo ajeita o bigode, uma mulher velha compõe o vestido branco com flores bordadas em rectângulo, um jovem limpa as remelas do rosto já fustigado pelo sol e uma criança de uniforme acompanhada de sua mãe. Um autocarro chega pontualmente, velho com lista azuis, com diversos rasgos laterais e a precisar de pintura. “Mérida é uma cidades mais seguras em todo o México, podes caminhar pela cidade sem problemas” diz Jorge.
Semáforo verde, circundamos a rotunda e entramos no Paseo Montejo. Uma avenida de palacetes como se estivessemos na Champs-Élysées em Paris. Jorge comenta que todos são património cultural e por isso não se pode alterar as fachadas. Instituições públicas e privadas com inspiração nos boulevares franceses. Um desfile de riqueza que não se avista em outro ponto da cidade. Yucatán é uma região diferente, distante do centro do país. Aliás, Mérida manteve mais relacações externas com França e Cuba do que com a própria capital. E por isso, este enorme Paseo Montejo deixado por Francisco de Montejo o grande conquistador de Yucatán e fundador da cidade.
O narcotráfego é assunto que não se fala por aqui mas Yucatán tem Cacún como uma das principais portas de entrada de droga. Na escuridão, há quem diga que muitos dos ricos são os principais narcotráfegos do México. Mas a principal riqueza desta terra adveio do “ouro verde”. A produção de sisal no passado em grandes quintas nos subúrbios de Mérida era utilizada para a fazer cordas. Seriam um elemento fucral para as embarcações, contudo em 1915 a lei proibiu a escravutura quebrando toda a mão-de-obra, o futuro trouxe inovação e as quintas estão quase todas abandonadas. No entanto, o império deixou uma classe social rica que perdura nos dias de hoje.
Jorge vive nos arredores de Mérida, uma zona residencial onde as famílias da clase média e alta e grandes empresas começaram a construir as suas vidas. Dali ao centro são 10 minutos de carro, 20 minutos de autocarro, numa cidade que diz não ter trânsito.
Seguiram-se umas horas de conversas sobre viagens e sonhos. Uma pausa para descanso. Um almoço bem tipico com sandes de conchinita e popusas de cerdo no mercado da cidade. E depois de tudo isto, Jorge levou-me até ao mais próximo templo de Mérida. O templo de Dzibilchaltún encontra-se num pequena povoação de terra árida e árvores secas. No final de um caminho longo e largo rodeado de árvores secas avista-se o altivo templo das sete bonecas. As 7 esfínges muito pequenas que foram encontradas no seu interior deram o nome ao templo, mas o que torna este local tão especial são os equinócios. O sol penetra no orifício central do templo e ilumina todo aquele corredor central. Um momento sagrado que chama milhares de visitantes.
Dzibilchaltún também não escapou ao império espanhol e por isso no final do corredor do templo pode-se visitar uma igreja do século XVI. Um pássaro negro e de asas longas pousa no topo da torre. “As ruínas têm também algo de mágico” comenta Jorge. Dentro do que resta da igreja um simples bater de palmas fez soar o som de pássaros por toda a igreja. “Mágia”, diz ele em tom de gozo.
Ainda nos terrenos do templo encontra-se o cenote Xlakah. Uma formação rochosa redonda fazendo parecer que ali caiu um meteorito. Uma água límpida, azul turquesa, com nenúfares no centro e muitos peixes. Algumas famílias mexicanas mergulham e os turistas, poucos, vão passando em exclamação. Mergulhamos nas águas desde o ponto mais baixo onde a água bate pelos joelhos até ao ponto mais profundo com mais de 40 metros de profundidade. Num espaço que não deve ser mais de 100 metros de largura. Os peixes são mais que muitos e além disso tratam das bactérias dos pés como ninguém. “Este é dos poucos cenotes abertos que podes visitar em Mérida” salienta Jorge.
O sol encerra o templo mas a salsa encerra a noite. Na Mérida cosmopolita, as antigas cantinas onde os homens bebiam cerveja e muito run, agora se baila salsa com as gerações mais novas num ambiente artístico e irreverente. Mexicanos, cubanos e tantos outros que se juntam para bailar ao som da banda musical na mezcalaria La Fundación. Mas depois da meia noite a música é outra, o dj convidado traz a música pop internacional aos pés do mexicanos.
De sol a sol, Mérida desperta e não descansa. Num solo pouco profundo e árido com tanto para ver, este foi o primeiro dia de uma ritmada, desconcertante e abafante Mérida.
1 Comentário
[…] Mérida é a capital de região de Yucatán. Colonialista, cosmopolita e gastronómica. É também uma cidade grande, com muita gente, muito comércio, muito pó no ar e as casas desgastadas pelas altas temperaturas húmidas. […]