Entrava pelas 5:45 da manhã no aeroporto de Amesterdão e já as filas de mochileiros, desportistas e homens de fato e gravata se alinhavam nas filas de check-in. Todas as saídas e entradas têm esta mesma característica, uma fila mais ou menos ordenada onde as pessoas são mais um número e uma lista de itens quadrados e redondos na bagagem. E, a acrescentar um nome que indica mais ou menos a integridade de um indivíduo.
Depois todos passeiam num território controlado e dali se segue mais uma vez em fila indiana para um avião onde hospedeiras nos recebem com um sorriso mais ou menos falso para dali levantar voo. Pelas 7h00 da manhã o avião levanta voo com destino a Frankfurt. Seguem muitos homens com um ar meio formal, com computadores e bons telemóveis em mãos. Loiros, altos e bem barbeados. Não levam um ar cansado e desgastado, muito pelo contrário mais uma vez aquela sensação relaxada do holandês no seu dia-a-dia.
Passado pouco mais de uma hora e com algum atraso que os alemães não nos habituam seguia mais uma vez em fila para um corredor mais ou menos controlado, com ligação para outro avião. Um correr de pessoas a cruzar os longos corredores e lojas, até ao número da porta que listava o meu novo destino. Mais um número e uma fila.
Um avião Airbus com dois patamares, umas turbinas com o dobro do meu tamanho e umas asas 10 vezes o tamanho dos meus braços. Entrava num avião sentindo-me formiga. E numa viagem que que perdi a noção do tempo. Quanto tempo foi? Uma soneca longa, um filme, um almoço, dois documentários, algumas páginas escritas num diário, uma leitura de uma centena de páginas de um livro de viagens, um jantar, mais uma soneca e finalmente cheguei a Houston, nos Estados Unidos da América. A mescla de cores desde os hospedeiros até aos tripulantes saem de novo em fila mais ou menos ordeira de olhar cansado e de rabo quadrado. O corpo com um odor de cansaço vestido numa roupa também ela gasta e envelhecida reflexo das olheiras coladas nos olhos.
Esperava-me no final do corredor rostos sérios e autoritários com uma lista de perguntas descabidas. Sim, porque mesmo que fosse um assassino não me denunciaria naquele primeiro questionário louco. Estava preparada, apesar de cansada, para as perguntas mais incoerentes que poderão surgir do nome que carrego desde nascença. Sim, por ali seria apenas mais um nome, uma impressão digital e um país. Nada mais.
As malas foram revistas e revistas. E dali, mais uma vez as formigas se cruzavam em corredores, farejando alguma comida antes de se sentarem aguardando pela seguinte rota.
Estava cansada. Comi o pior hamburger da minha vida e aguardei em frente à porta de embarque número Z62. Reconhecia todos os americanos, todos tirados das televisões. A funcionária do quiosque com mais de 150 quilos, com um rabo gigantesco e uns lábios carnudos. O hospedeiro negro com um corte de cabelo bem desenhado e toques delicados. O jovem na sala de espera com barba sobre o queixo e cabelo meio comprido em rabo de cavalo e com quilos para além dos recomendados. A jovem de calções curtos sobre a bochecha do rabo e uma voz e sotaque tipicamente histérico dos filmes de domingo à tarde. Todos tirados dos filmes, estão todos ali e eu reconhecia-os.
Desesperava com o atraso e mal entrava no avião esperava sentar no local mais tranquilo para curar o meu jetlag. Lugar D4 onde se encontrava um casal com um bebé de colo. Sustentava o meu desespero. O sorriso lindo uma menina, filha de uma americana e um guatemalteco, desfaz o meu cansaço e deixa-me descansar durante toda a viagem.
Finalmente, Guatemala!
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