Entro em Antígua com a sensação de ir visitar uma das mais coloridas telas que os espanhóis pintaram na época colonialista. Caí na tentação da gula. E saí desorientada, com a sensação que poderia ficar por lá durante muito tempo.
É pela manhã que a cor acorda em Antígua. Lentamente os raios de luz entram pela rua 5 adentro. A cidade acorda com o jornal da manhã quando a mulher de traje colorido e de rosto fustigado pelo sol toca a campaínha da porta 42. Mais adiante um tuk-tuk para deixando três senhoras com feições alegres e gargalhadas genuínas. Ainda não encontrei sorrisos tristes e há sempre um ‘hola’ cantante à passagem de desconhecidos. Descem e seguem em passo guatemalteco pela calçada velha e desalinhada. Na esquina da casa amarela um senhor olha parado, o povo que vai passando e o sino da igreja anuncia o amanhecer de um dia solarengo. A luz entra como todos os dias e vai subindo a rua 5 acima iluminando todo o parque até ao adro da igreja. Aí todo o arco-íris está acesso. A tela está pintada. Antígua é uma tela colorida de uma cidade colonial antiga. E como o nome indica foi a antiga capital do país, que nasceu no sopé do vulcão água. Rodeada de vulcões foi também ela destruída por uma grande erupção em 1543. Apagou-se todas as cores e da mesma forma todas elas foram repostas. Em cada rua, a calçada antiga, limpa e desalinhada, o mesmo traço arquitectónico símbolo de um intenso passado do império espanhol. O carimbo de património mundial da UNESCO é motivo de orgulho e faz desta cidade um exemplo para todo o país.
Desorientada numa das coloridas ruas de Antígua encontro Willy e logo de seguida caio na tentação da gula. Willy percorre comigo no sabor autêntico do café da Antígua, guatemalteco natural de Antígua, provador e pequeno produtor de café, tem um paladar refinado. Entramos no Fat Cat para seu amigo de longa data ensinar-me de forma detalhada como se prepara os vários tipos de café. “Sai um Japonese Coffe” diz-me ele, “Com certeza que sim” recordo as palavras dos habituais cafés da minha terra natal. Prepara com calma e delicadeza o café de antígua: primeiro moie o grão, em seguida deixa-o correr no filtro de papel, mexe o pó muito lentamente e dali desce o café para o bule que sustenta o gelo. Em tempo lento chega ao seu resultado final. A ciência acompanha o café em todos os processos possíveis e imaginários para as milésimas formas de apresentar a bebida. Aqui, até o expresso tem um paladar diferente.
Seguimos com o cheiro do café ainda nas papilas gustativas até ao museu do chocolate para continuar nos principais tesouros da Guatemala. Aztec (cacau) foi descoberto nestas terras sendo levado para Espanha em 1585 abrindo o exotismo aos paladares europeus. O cacau foi utilizado como uma bebida nutritiva e refortificante, podendo-se encontrar ainda nos dias de hoje gente que utiliza o cacau de forma medicinal. A Europa conheceu o cacau nas altas burguesias chegando muito mais tarde à sua transformação tal como a conhecemos. Foram os europeus que espalharam o cacau por diferentes pontos do planeta e ainda são eles os principais consumidores de café na actualidade. Entramos pela loja alaranjada do museu do chocolate ao encontro do paladar. Provamos as bebidas de chocolate com tamarindo, com laranja, café ou amêndoa, em seguida degustamos as barras de chocolates para fazer chocolate quente, os licores e até as sementes recobertas em chocolate. No final uma bolacha coberta de chocolate negro até as papilas gustativas se cansarem de tanto chocolate. Patty, uma das funcionárias da casa sempre alegre diz com a toda a simplicidade “Adoro o meu trabalho, como chocolate todo o dia enquanto dou a provar e por isso estou sempre alegre”. Acredito plenamente porque um pedacinho de chocolate dá-me uma felicidade tamanha.
Ainda com cor entro pela principal avenida, onde os turistas fotografam a torre-relógio amarela com vista para o vulcão água. A fotografia é o postal mais famoso de Antígua. Malene é mais uma turista apaixonada da cidade, como tantos outros, que vagueia aguardando sempre momentos novos. Conta-me do fascínio pela cidade e seu reencontro ao final de 10 anos com a família que a acolheu enquanto aprendia espanhol e fazia voluntariado com crianças. A estadia em Antígua quase sempre se prolonga por semanas ou meses, dizia ela. E termina pensativa, “Voltarei novamente a este lugar”.
Mal a noite cai na rua Santa Lúcia, ao fundo da avenida principal, os ‘comedores’ cantam para chamar o freguês ao mesmo tempo que batem a tortilha de milho com as mãos. A comida acompanha o dia assim como os vulcões permanecem em seu redor. Os três vulcões, Água, Acatenango e Fogo, parecem que estremecer a cidade mal a noite cai. Um frenesim de gente a entrar e sair dos bares e restaurantes que parece estremecer toda a cidade. As luzes com cores fortes, a música a percurtir nas ruas mantenhem todas as ruas acordadas. A noite faz-se cedo mas há sempre tempo para um pé de dança. Margo, amiga de Willy mas francesa de gema, conhece já os ritmos e a sensualidade da música. Entra nas Las Palmas com passo firme e com a enorme vontade de dançar até cair. Ela é mais uma das turistas que entrou em Antígua e que por aqui ficou. Viajava. Mas ficou com a sensação que poderia viver por ali algum tempo. Já passaram 3 meses e o futuro para já será aqui.
Sigo com a sensação musical do Sérgio Godinho “Hoje soube-me a pouco”. Assim como Malene, Willy, Margo e tantos outros que se cruzaram comigo desejaria ficar por ali muito mais tempo.
2 Comentários
[…] a cidade homónima de Antígua. Uma pequena cidade com arquitectura colonial. Casas baixas com fachadas coloridas, com janela […]
[…] Antígua, cidade colonial, património mundial da UNESCO, que se encontra na base do vulcão Água, antiga capital da Guatemala nos dias de hoje tornou-se a capital turística da Guatemala. Uma cidade colorida com uma calçada empedrada, com uma vida cosmopolita, com tradições vivas e com uma região envolvente que vale a pena descobrir. Sobe ao vulcão Pacaya ou se fores corajoso ao vulcão Acatenango. Visita as plantações de café e saboreia o melhor café da Guatemala. Visita as quintas de produtos biológicos e a produção de macadómia. Perde-te nos mercados e galerias de artesanato. […]