O Canal do Panamá é uma história de engenho e coragem humana que remonta aos inícios do século XVI. Uma engenharia tão imponente que chama milhares de turistas todos os dias. Após um mês e meio da abertura do novo canal, Panamá duplicou a sua capacidade de via inter-oceânica. O comércio mundial conhece hoje mais uma nova via de trocas comerciais.
Javier saudava-me à entrada no Canal do Panamá. A sua curiosidade em conhecer novas gentes e a minha curiosidade em conhecer melhor a história do canal, juntaram-nos num diálogo longo no terraço enquanto via os navios a passar.
O navio demora quase 10 horas a cruzar os 80 quilómetros de extensão do canal para chegar ao outro oceano. Para cruzar o canal um barco paga em média 300 a 400 000 dólares. A entrada do barco faz-se por uma série de 3 jogos de eclusas, que servem de elevadores de água que sobem as embarcações ao nível do lago Gatún. A passagem nas eclusas de Miraflores demora cerca de 45 minutos. Parecia-me impressionante o lento movimento daqueles navios que transportavam toneladas de bens. Ao final do dia contavam-se mais de 35 barcos.
Com as obras de expansão do canal o Panamá duplicou a sua capacidade de negócios. A partir de 26 junho de 2016, barcos com 55 metros de largura podem cruzar o canal através de um engenho moderno de eclusas. A obra que foi realizada por um consórcio entre Panamá, Espanha e Bélgica, mas também muitos portugueses estiveram envolvidos nesta mega construção que levou cerca de 9 anos para concluir. No dia de inauguração, o barco japonês Cosco cruzou o canal pagando cerca de 800 000 dólares. E todos os panamenhos festejam no terraço do museu de bandeiras em punho.
Estava estupefacta com o negócio, questionava Javier como era possível que os americanos tivessem entregue esta obra aos panamenhos. Deveriam ter ganho milhões ou trocas comerciais com o acordo, pensava. Mas a história não contava isso e Javier explicava-me as razões que lhe pareciam mais plausíveis: “Bem, a exploração do canal pelos americanos não se traduzia em lucros. Eram como se fosse uma organização sem fins lucrativos. Quando assinaram o acordo com o Panamá talvez julgassem que os panamenhos não conseguissem gerir o canal e pouco tempo depois pediriam ajuda! Isso não aconteceu e devem ter ficado surpreendidos como transformamos o canal num negócio de milhões! Penso que os EUA só tiveram consciência desta perda anos depois”.
Enquanto conversávamos, via passar um navio no novo canal. Este seria um dos mais 100 barcos que já cruzaram o canal nesta nova via. Impressionante a sua magnitude. Javier tentava surpreender-me “Se em Nova Iorque se bebe um vinho chileno, ou se em Espanha se come uma banana equatorial seguramente que passaram por aqui!” As actividades comerciais que passam no Canal do Panamá representam cerca de 4 a 5% do comércio marítimo mundial.
Com mais de 100 anos de história o canal é um dos principais fontes da economia do Panamá e isto faz com que o Panamá seja diferente do resto da América Central. Bastava apenas uma visita ao Canal do Panamá para me aperceber do capital que o país gere e investe no seu país.
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