É impossível não amar Cartagena desde o primeiro segundo. É impossível não ser uma paixão assolapada, como se tratasse de um amor de verão. É impossível deixar Cartagena sem saudade.
O calor das ruas de Cartagena convidava a um passeio sem destino, a uma descoberta sem mapas. As ruas vibravam com música. As famílias sentavam-se no passeio à porta de casa com uma aparelhagem e colunas a espalhar ritmos para todos os vizinhos. Mais adiante uma senhora idosa recostada numa velha cadeira à porta de casa dedicava-se às palavras cruzadas. E no adro da igreja, os meninos jogavam à bola. Um jogo acesso, com vários assistentes e suplementes a gritarem a pedir justiça ao árbitro. A vida acontecia aqui. As ruas de Cartagena estavam quentes, de uma humidade assoladora mas que não retiraram a vontade louca de percorrer, de me perder no tempo.
Estava no bairro Getsemaní, um velho bairro reinventado agora pelas mãos dos jovens. Casas com quadros artísticos pintados com grafitis. Aulas de zumba no adro da igreja Santíssima Trinidad. Durante o dia, as ruas enchiam-se de turistas carregados de câmeras fotográficas para captar as cores da cidade. As cores explodiam e apaixonavam os olhos de todos os viajantes.
Do outro lado da cidade, as muralhas guardavam a velha cidade colonial. Noutros tempos saqueada vezes sem conta, é hoje um labirinto colorido que guarda uma riqueza histórica e cultural incalculável. De novo as cores. De novo a sensualidade. De novo a paixão. Nestas muralhas os enredos viraram contos, pela escrita de Gabriel Garcia Marquez. A Plaza de los Coches, do “Do Amor e Outros Demônios”, o Portal de los Escribanos, onde se encontraram os protagonistas de “O Amor nos Tempos do Cólera”, o hotel Santa Clara que conta a história de amor entre o padre Cayetano Delaura e a jovem Sierva María de Todos los Ángeles, em “Do Amor…”. Tantas histórias. O tempo parecia inerte. O casco dos cavalos a cruzar as ruas empedradas e a arquitectura colonial mantinham Cartagena no passado.
O dia caía. As muralhas enchiam-se de casais apaixonados a ver o pôr-de-sol sobre o mar. Todos sabem que a esplanada do café Del Mar é o cenário perfeito para terminar o dia. Para além de turistas de chapéus de palha relaxados a beber mojitos, os jovens colombianos juntavam-se em grupos a beber cerveja sobre as muralhas. E nas pequenas brechas que no passado serviriam para vigiar saqueadores, jovens namorados escondiam-se a namoriscar. O calor. A cor. A vida com tanta intensidade!
A noite estava montada e o cenário não deixava de ser colorido. Os restaurantes acendiam as luzes e abriam as portas. A música soava por todas as ruas e os jovens bailarinos vestiam roupas indígenas e rodopiavam pelos sons dos tambores nas principais praças do centro histórico. O quadro romancista estava pintado e a noite ainda era uma menina.
Cartagena apaixonava-me e guiada pelas palavras de Gabriel Garcia Marquez perdia-me pelas cores e pelos sentimentos que nublavam a cidade. Para ti Cartagena: “Amo-te não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo.”
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