À volta de San Cristobal de Las Casas vivem povoações indígenas, tsotiles e tseltales. Existem 8 etnias e ainda há o movimento zapatista entre isto tudo. Tudo na envolvência desta pequena cidade, que para os turistas é uma vibrante cidade cosmopolita. Quem está de passagem desconhece os graves problemas sociais e políticos. O limite entre a vida e a morte é ténue.
Eram 11 horas da manhã quando bato à porta de Marina. Nada melhor que conhecer estas povoações com Marina, espanhola de gema a viver no centro da cidade com o seu marido mexicano. Seguimos entre montes e vales num taxi colectivo até Zinacatán. Uma povoação pequena onde costuma ir comprar artesanato para levar para Espanha e onde aprendeu a tecer como mexicana. Percorremos as ruas sobre o sol tórrido desde a praça principal até à casa das suas amigas. Pouca gente na rua. Só as crianças é que se atrevem a pular e pedinchar os turistas sobre este sol. As meninas vestem saias longas em tons de azul e a blusa é um bordado florido. Chegamos a casa das artesãs. Ali estavam 10 mulheres, todas sentadas à sombra no terraço de casa com as mãos e os pés ao tear. Um sorriso longo e verdadeiro recebe Marina. Ela senta-se entre elas em conversa afiada. Conversa da vida alheia junta por longas horas qualquer mulher do mundo. Marina costuma passar alguns serões a tecer. O tempo não tem horas e o dia termina quando o sol se põe. As crianças brincam com os animais de casa. E os raros turistas entram para comprar artesanato. Aqui a vida é modesta e a terra é generosa com o povo.
Chiapas é descendente maia e por isso vive mergulhada numa complexidade tamanha. É composta por selvas, praias e rios. Fala diversas línguas. Junta diferentes etnias. Tem cidades e aldeias e deverá ter muitas populações desconhecidas que vivem no meio da selva. Há café, milho e manga em abundância. E é também das regiões mais pobres do México. Maria prolongaria o seu diálogo por toda a tarde.
Seguimos para Chamula. Atravessamos um vale de janelas abertas no taxi colectivo para sentir uma brisa fresca no corpo. Chamula começa numa rua cheia de lojas, camisas coloridas e carteiras de pele. No final da rua principal uma enorme praça se estende até à igreja. Pintada de branco e com um arco redondo na porta com flores amarelas e azuis pintadas em fundo verde e as portas de madeira. As fotografias são permitidas apenas no exterior, todo o interior não pode ser fotografado e aí de quem que cometer tal delito. Um grupo de homens começa então a descer a praça em direcção à igreja. Vestidos de branco com violas ao peito. A musica é calma e ninguém canta. Seguem para o interior em compasso lento até Jesus Cristo. Só homens. Ali dentro não há bancos. Mas um imensa caruma de erva cobre o chão da igreja e as mulheres acendem velas a todos os santos. Ajoelham-se em oração e permanecem ali em família. À toda volta: Jesus Cristo negro ressuscitado, Santa Marta, São João, Santo António, Virgem de Guadalupe. Todos em altares de madeira com espelhos ao peito. Tudo num ambiente escuro fumado com incenso e velas. Embebida numa atmosfera relembro da vivência da Juliana. Escandalizada presenciou a matança de uma galinha no centro da igreja. Esta povoação rompeu com a igreja católica tradicional e tem práticas pouco convencionais. A coca-cola é usada como bebida para afastar os maus espíritos e por isso por vezes é possível ver homens a cuspirem pelo ar um grande bafo de coca-cola. “cada santo tem uma festa” explica o zelador. “são 198 santos” o que dá muita festa durante o ano. “a caruma muda-se três vezes por semana e as orações são em tsotil”.
Chamula é uma comunidade fechada, não se dizem zapatista mas a população não deixa entrar ali pessoas novas e todas que não são benvindas têm um trato impiedoso. Juán permaneceu em San Cristobal mais de um mês e foi se apercebendo das pequenas coisas que por ali passavam. Contava-me que ali não entra ninguém e que infrações na povoação podiam levar à morte pelos próprios chefes da comunidade. Fechada em si mesmo dizia. A polícia não entra ali e por isso é das comunidades mais fortes de Chiapas. O turista não vê isto.
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