Diários-México

Chamula e Zinacatán para além da vista do turista

Abril 27, 2016

À volta de San Cristobal de Las Casas vivem povoações indígenas, tsotiles e tseltales. Existem 8 etnias e ainda há o movimento zapatista entre isto tudo. Tudo na envolvência desta pequena cidade, que para os turistas é uma vibrante cidade cosmopolita. Quem está de passagem desconhece os graves problemas sociais e políticos. O limite entre a vida e a morte é ténue. 

Eram 11 horas da manhã quando bato à porta de Marina. Nada melhor que conhecer estas povoações com Marina, espanhola de gema a viver no centro da cidade com o seu marido mexicano. Seguimos entre montes e vales num taxi colectivo até Zinacatán. Uma povoação pequena onde costuma ir comprar artesanato para levar para Espanha e onde aprendeu a tecer como mexicana. Percorremos as ruas sobre o sol tórrido desde a praça principal até à casa das suas amigas. Pouca gente na rua. Só as crianças é que se atrevem a pular e pedinchar os turistas sobre este sol. As meninas vestem saias longas em tons de azul e a blusa é um bordado florido. Chegamos a casa das artesãs. Ali estavam 10 mulheres, todas sentadas à sombra no terraço de casa com as mãos e os pés ao tear. Um sorriso longo e verdadeiro recebe Marina. Ela senta-se entre elas em conversa afiada. Conversa da vida alheia junta por longas horas qualquer mulher do mundo. Marina costuma passar alguns serões a tecer. O tempo não tem horas e o dia termina quando o sol se põe. As crianças brincam com os animais de casa. E os raros turistas entram para comprar artesanato. Aqui a vida é modesta e a terra é generosa com o povo.

Chiapas é descendente maia e por isso vive mergulhada numa complexidade tamanha. É composta por selvas, praias e rios. Fala diversas línguas. Junta diferentes etnias. Tem cidades e aldeias e deverá ter muitas populações desconhecidas que vivem no meio da selva. Há café, milho e manga em abundância. E é também das regiões mais pobres do México. Maria prolongaria o seu diálogo por toda a tarde.

Artesã em Zinacatán

Artesã em Zinacatán

Seguimos para Chamula. Atravessamos um vale de janelas abertas no taxi colectivo para sentir uma brisa fresca no corpo. Chamula começa numa rua cheia de lojas, camisas coloridas e carteiras de pele. No final da rua principal uma enorme praça se estende até à igreja. Pintada de branco e com um arco redondo na porta com flores amarelas e azuis pintadas em fundo verde e as portas de madeira. As fotografias são permitidas apenas no exterior, todo o interior não pode ser fotografado e aí de quem que cometer tal delito. Um grupo de homens começa então a descer a praça em direcção à igreja. Vestidos de branco com violas ao peito. A musica é calma e ninguém canta. Seguem para o interior em compasso lento até Jesus Cristo. Só homens. Ali dentro não há bancos. Mas um imensa caruma de erva cobre o chão da igreja e as mulheres acendem velas a todos os santos. Ajoelham-se em oração e permanecem ali em família. À toda volta: Jesus Cristo negro ressuscitado, Santa Marta, São João, Santo António, Virgem de Guadalupe. Todos em altares de madeira com espelhos ao peito. Tudo num ambiente escuro fumado com incenso e velas. Embebida numa atmosfera relembro da vivência da Juliana. Escandalizada presenciou a matança de uma galinha no centro da igreja. Esta povoação rompeu com a igreja católica tradicional e tem práticas pouco convencionais. A coca-cola é usada como bebida para afastar os maus espíritos e por isso por vezes é possível ver homens a cuspirem pelo ar um grande bafo de coca-cola. “cada santo tem uma festa” explica o zelador. “são 198 santos” o que dá muita festa durante o ano. “a caruma muda-se três vezes por semana e as orações são em tsotil”.

Chamula é uma comunidade fechada, não se dizem zapatista mas a população não deixa entrar ali pessoas novas e todas que não são benvindas têm um trato impiedoso. Juán permaneceu em San Cristobal mais de um mês e foi se apercebendo das pequenas coisas que por ali passavam. Contava-me que ali não entra ninguém e que infrações na povoação podiam levar à morte pelos próprios chefes da comunidade. Fechada em si mesmo dizia. A polícia não entra ali e por isso é das comunidades mais fortes de Chiapas. O turista não vê isto.

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