A poucos dias para partir o turbilhão de dúvidas chegam. Pensar ficar já não podia sequer fazer parte dos meus pesadelos. As preocupações de como será voltar também não podem assustar. A viagem tem dois gomos, duas sentenças, duas preocupações que fazem dar nós na barriga. A ida e a volta.
Partir
Abre-se a mala para colocar a lista de itens que se vai acumulando no chão do quarto com risco de esquecer de algo. Embala-se os equipamentos, a roupa, os livros e acessórios assim como se embala os roteiros, os contactos e as ideias. Depois deixo que a família me leve ao aeroporto como qualquer outra viagem. É ali, aqueles segundos de abraço com uma lágrima no canto do olho a brilhar e a querer descer no rosto que aniquila a coragem estampada no rosto.
E… Déjà vu! Recordo o embarque de há 12 anos quando partia para Angola, para viver uma das experiências mais marcantes da minha vida. O mesmo abraço, a mesma lágrima e as mesmas palavras. Aquele abraço de amor incondicional é a melhor recordação que levo na mala mas também será a dor que deixo em terra que mais me angustia.
Chegar
Quando se volta nunca se regressa ao mesmo passado. Num primeiro momento abro a mala para retirar as emoções e depois coloco-as nas estantes dos livros de contos. Depois, os amigos querem ouvir muito mas na verdade não vivem connosco o nosso entusiasmo. E ainda, o corpo terá de se acostumar às molas do colchão, à água a correr no chuveiro e aos paladares da comida da mãe.
A mala foi encaminhada e aquele abraço apertado empurra-me para a odisseia. Se o abraço cá estiver quando voltar, tudo valerá a pena!
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