Diários-México

Entrar na selva de Palenque

Maio 2, 2016

A selva condensa-se lentamente à medida que me afasto de San Cristobal em direcção a Palenque. Vales de montanhas de um verde intenso, com pastos e árvores. Uma natureza cerrada, onde não se vêem caminhos nem gente. Uma selva onde os animais se ouvem ao longe, contudo não se conseguem enxergar. Uma estrada em serpentina passando em pequenas povoações de casas de colmo.

Na longa distância que se percorre surge, num lugar onde parece não existir nada, um homem troteando um cavalo castanho esbelto trazendo à cintura uma catana afiada. Chego a Palenque e o calor parece abafar. Tão forte e tão exageradamente húmido.

Palenque deriva da palavra espanhola fortificação. A poucos quilómetros da cidade Palenque, a estrada de curvas de árvores frondosas desemboca na entrada das ruínas maias. E é por ela que o frenesim de turistas acorre a esta cidade recolhida na selva de Chiapas. À entrada a fortificação de árvores, não assombra o pico das pirâmides. Caminhando por uma pequena calçada encontra-se à direita três pirâmides perfiladas, dedicadas aos principais deuses, GI, GII e GIII. E à sua esquerda a mais alta e magnificiente pirâmide de Palenque, o Palácio. Mais adiante as escadas continuam e mais algumas pirâmides surgem como se crescessem da terra como árvores.

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As escadas estreitas construidas em escalada para a principal entrada da pirâmide levam a santuários fechados. Os iguifos inscritos nas paredes levam a crer que estes locais seriam temazcals, locais onde se realizavam os partos. E daí que, acreditarem que os templos seriam o local de nascimento desta tríade de deuses.

Ali a distância entre o mundo e o inframundo é limiar. A ligação entre a natureza e os outros mundos era algo de ímpar na civilização maia. E é algo de transcendente para uma simples ocidental como eu. Na esquina da pirâmide encontram-se alguns jovens a vender quadros do calendário maia e os guias vão parando explicando aos turistas o seu significado. “Primeiro a civilização maia não previu o fim do mundo em 2012 mas sim uma viragem no calendário”, este é o principal mito que fazem questão de salientar e depois falam dos números, dos meses e anos. Relembro o calendário egípcio. É incrível como duas civilizações completamente distante apresentaram calendários belíssimos que se perpetuam nos dias de hoje na história mundial.

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Palenque não precisa de guias. Basta entrar pela selva e desvendar os templos. Subir às pirâmides e observar os relevos da selva. Tentar avistar os 90% de ruínas que se escondem na vegetação. E por último sentar à sombra sobre as longas árvores que coexistem entre os templos e aproveitar a harmonia do momento.

Momentos destes colocam-me numa máquina do tempo. De repente, imagino-me entre deuses maias e numa civilização completamente selvagem. Como o tempo levita! A pele sente um leve arrepio que percorre toda a coluna vertebral e os pêlos levantam em conformidade. Isto só acontece em locais mágicos e grandiosos como Palenque.

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