Flores é uma pequena ilha circular onde as casas ordenam-se como as ondas do lago, girando em círculos desde o pico mais alto até aos murais que ornamentavam as bordas do lago. Uma pequena aldeia de ruas estreitas. E é ali no hostel Los Amigos, que a vida do povo de Flores se reúne. Viajantes chegados de diferentes pontos cardeais. Localizada num vértice norte da Guatemala, esta ilha é um ponto de encontro de histórias de locais distintos. E é assim que a noite começava junto à mesa de bilhar com o Alexander, sueco em viagem pela Guatemala. Com Ryan, um australiano no roteiro dos surfistas. Com Gillian, uma jovem canadiana que viajava pela Riviera Maia e Guatemala. Com o Taco, holandês que acabava de chegar do Belize, que seguia viagem pela Guatemala e calculava meta para final do ano na Argentina. Com Casper, dinamarquês em viagem desde a Cidade do México com meta planeada para a Patagónia. Todos com longos meses de viagem, sentados a partilhar aventuras à volta da mesa. Esta região é o culminar de vários roteiros. A diversidade entre o Norte da América e a América Central fascinava-me, os nossos mapas tinham pontos completamente distintos. Todos à mesa, partilhando conselhos de viagem, sonhos e bem-aventuranças. A viagem escreve um livro de histórias, que contado à mesa pode se tornar num momento apetitoso, de salivar por mais.
Bem, não foi bem assim que aconteceu… Terminava o jantar com a sensação de fadiga e desinteresse. De repente, dava-me conta que já não tinha perfil para a conversa de mochileiro, que se alegrava com histórias juvenis de viagem, um copos de cerveja, uns jogos de cartas ao final do dia e uma festa pela noite adentro. A minha viagem era outra… A minha idade, a minha personalidade, a minha forma de divertir… Acabava a noite no bar do hostel, que por sinal era o bar da ilha onde os locais da ilha se divertem, entre locais. A dar um pé de dança enquanto alguns dos mochileiros jogavam Ginga no canto da sala e outros bebiam cocktails em grupo de estrangeiros. Gostava daqueles dos longos diálogos que travava com os guatemaltecos e mexicanos. E assim, apercebia-me da afinidade com a cultura latina. A língua espanhola aproximava-nos tanto! A viagem tem uma riqueza sem igual quando falamos todos a mesma língua! E apesar da distância no mapa, éramos tão semelhantes!
De repente, nada acontece de repente nem por acaso, despertava num pestenajar para: que tipo de viajante sou, qual era a minha viagem e com quem viajava. Que a viagem era vivida de forma singular, não havia histórias nem momentos repetidos. Que a viagem colocava-me todos os dias na escola da vida. Viajar transformava-me…
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