O tempo dita a vida nas ilhas. Hoje há chuva, por isso programa zen em águas quentes temperadas com chuva. Rumamos ao Vale das Furnas.
Por entre as hortênsias, a descida leva-nos à primeira paragem: as caldeiras. A Lagoa das furnas é de um verde refletido das montanhas que a circundam e lá no fundo os fumos começam a levantar voo da terra. Nessas furnas, as panelas afundam-se para cozinhar os cozidos à moda portuguesa. Coloca-se na panela a morcela, o chouriço, as carnes de porco, vaca e frango, todos dispostos em camadas com a cenoura, o inhame, a batata doce e o repolho. Ao final de 5 horas o cozido fica pronto e em pequenos piqueniques ou em restaurantes da povoação a refeição é servida.
Ainda por ali, ficamos por momentos a saborear um novo cocktail da região. Putz é um composto de ananás, açúcar de beterraba, laranja e muito gelo. Hummm… O ananás dos açores não tem acidez e tem um sabor intenso que não me lembro de saborear no continente.
Ainda neste vale, há uma paragem obrigatória no campo hidrotermal das Caldeiras das Furnas para saborear a água férrea, com gás ou sem gás que se dispõe nas pequenas fontes. O milho é cozido em grandes sacos nas águas quentes que borbulham e de seguida vendido na esquina: “oh senhor o milho é do boom?” “Bom como as meninas!” “ora venha lá um!” e por ali ficamos na converseta com o senhor chegando-se também alguns portugueses que por ali passeavam.
Circundamos as furnas e enchemos umas garrafinhas de água azeda para a mãe de Maria. A água azeda é uma água fria com sabor a bicarbonato e com gás. Há quem goste, há quem deteste, há que provar para saber a resposta.
De novo a chuva. Ora pára, ora salpica, ora cai sem haver horas para acabar. Quando há chuva, é hora de mergulhar nas águas quentes. O Parque Terra Nostra tem mais de 12 hectares e mais de duzentos anos de idade. Thomas Hickling foi um visionário, um apaixonado, homem com ousadia para criar um pequeno paraíso. Cônsul dos Estados Unidos da América em São Miguel em meados de 1775, ali fez construir a sua residência de verão. Mas foi em meados do século XIX que este parque foi-se desenvolvendo com os seus sucessivos proprietários, os Viscondes da Praia, e posteriormente com a família Bensaude. O parque é localizado na cratera de um vulcão. Possui uma colecção de fetos, um jardim de flora endémica e nativa dos Açores, Jardim de Vireyas, uma colecção de cycadales e camélias e muitas mais plantas originárias de vários países como a Nova Zelândia, América do Norte, Austrália, China e África do Sul.
Uma das grandes atrações é o grande tanque de água férrea a uma temperatura entre os 35 e os 40 graus. Abaixo da escadaria de uma grande casa, que eu designaria de palacete, os visitantes mergulham e relaxam por horas nas suas quentes águas. Nestes momentos a chuva mergulhar ali é um acto de puro prazer. Os pingos a desenhar círculos na água, o vapor a rodear os corpos e o prazer a correr nas veias. Foi difícil sair dali.
As horas do estômago ditam-nos sempre o caminho a seguir. O cozido das furnas num restaurante local e uma pausa numa casa tradicional da região para levar uns bolos lêvedos para o lanche.
De papo cheio, seguir até à Poça Dona Beija. E como se ainda não bastasse de paraíso, o espanto dos sentidos dá-se mal se põe aqui os pés. O seu nome deve-se à novela brasileira onde a personagem Dona Beija se banhava na cascata. As imagens românticas preenchem realmente este lugar. Nos últimos tempos a renovação do espaço fez de uma pequena cascata um espaço com diversas poças com cascatas de água quente rodeadas de plantações de inhames e cycas. Poderia imaginar que estaria num hotel de luxo no Bali mas descobri que é muito mais perto e muito mais barato este pequeno paraíso balnear (entrada de 3 euros). E por ali ficamos horas, com chuva, sem chuva, até a poça encerrar, porque não há outra forma de nos fazer sair dali (encerra às 23 horas).
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