Diários-Cuba

Havana, ao ritmo dos cubanos

Junho 19, 2016

Aterrava no aeroporto Jose Martí, a porta de saída abria para uma terra seca e quente e uma longa fila de velhos carros de variadas cores. Estava pronta para embarcar na desejada viagem no tempo a um país chamado Cuba.

Entrava num velho carro verde e branco sem marca estampada e uns estofos de couro coçados e rasgados. Uma caixa de velocidade gasta e um motor que diria que estaria a poucos dias de morrer. Juan com a minha idade é pai de família, sintia-me a anos de distância dele. Guiava-me desde do aerporto até ao centro da cidade, numa estrada algo perdida nos anos 60. Estava perdida no tempo, todos os carros eram velhos e coloridos, não lhes conhecia as marcas e os homens acastanhados de chapéu de palha pareciam tirados de um filme. Depois de alguma árvores a avenida entrava pela praça da revolução e dali a alguns quarteirões chegávamos à famosa avenida Malecón para de seguida entrar pela Havana velha.

Saía no principal ponto de referência de Havana, o Parque Central. Encontraria-me com Lorena, uma companheira de viagem que reencontro agora em Cuba. Lorena conhecia a cidade há uma semana e por isso entraria em Havana pelos seus olhos.

-Preparada? Perguntava-me ela, com ar meio frenético.

– Cuba é de uma loucura desmedida, pensei que amaria e acho que não a suporto! Tudo é difícil

– Bem, vamos aproveitar a cidade. Onde se dança? – perguntava eu, com toda a motivação de entrar no ritmo.

As ruas de Havana são cheias. Cheias de gente. Rostos redondos, maquilhados e corpos de curvas bem definidas. Mulheres de vestidos justos à pele, com lábios carnudos e olhos grandes e escuros. Homens mestiços e negros, magros e músculos bem feitos. Olhavam-me na rua, de cima abaixo e não deixavam de parar, comentar, chamar, tentar conversa.

– Hooolaaa! Que guapa! Donde és?

Não respondia, seguia no primeiro dia, entimidada com os olhares penetrantes da cidade.

Em Havana há música em cada esquina

Em Havana há música em cada esquina

Passando o parque central, olhando à direita o prado, seguiamos pela rua neptuno até encontrar a casa da música. Matiné às 6 horas da tarde. Entrávamos pela casa de espectáculos num corredor a meia luz até entrar num grande anfiteatro onde a música já tocava e os cubanos já se alinhavam a dançar. Uma banda de vários elementos, com um cantor famoso que desconhecia acompanhado de dez elementos a tocar batuques, trompetes, saxofone e umas jovens a dançar. Um casal sentava-se ao nosso lado. Um mulher de cor branca de meia idade, um jovem mestiço de sapatos de dança, calça justa, camisa meia aberta e brilhantina no cabelo. Dança após dança. E os nossos olhos olhavam descaradamente o espectáculo na ponta dos pés. Atrás um grupo de jovens brancos, com ares vindos do centro da europa, misturados com alguns cubanos, com ares de professores ou jovens galeantes prontos a namoriscar as jovens estrangeiras. Pedimos um mojito. Dois, três. E os pés já começavam a dançar. Juntámo-nos por convite à família de Marina. E com eles, dávamos os primeiros pés de dança. Duas, três músicas. E naquela envolvência, onde ninguém nos conhece, de repente entrava a dançar com Marina em pleno palco ao ritmo que o cantor negro e de pele suada, nos encitava. Depois da salsa, vem sempre o reggateon. Bruno sem ser introsivo, regrava o meu passo desajeitado com pequenas dicas. Uma, duas e à terceira já aquele corpo negro, de cabelos longos em rastas largas se colava às formas do meu corpo. Depois de quatro mojitos, já não havia vergonha e se queria aprender salsa teria de perder a vergonha e o pudor. Tudo fluía. A música, a dança e até aquelas palavras certas sussurradas ao ouvido. Daria mais meia hora de dança e não sei o que se passaria. Passariam das nove da noite e a Lorena chamava-me à terra para encerrar a dança e sair para a rua.

Seguimos pelos becos de Havana guiadas por Marina. As casas com a noite já não tinham cor, plácidas e cheias do pó da terra. Confiava em Lorena que já conhecia Havana há uma semana. Jantaríamos em família. Entre conversas num espanhol que ainda não entendia seguimos para a casa de Marina. Um prédio velho. Um segundo andar alto e com meia luz. entramos numa cozinha velha, apertada e cheia de santos. E a conversa era um tanto ou quanto lunática. Ou seria eu que não estaria a entender nada do espanhol cubano. E nisto, terminámos a noite numa pizaria meia escura e apertada, meio suja e de poucas simpatias. A pagar a nossa e a conta de Marina e seu irmão que também se tinha juntado a nós. Lorena terminaria a noite novamente indignada com a falsa amizade cubana. E eu ainda a aterrar pensava: “mas que ritmo!”

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