Aterrava no aeroporto Jose Martí, a porta de saída abria para uma terra seca e quente e uma longa fila de velhos carros de variadas cores. Estava pronta para embarcar na desejada viagem no tempo a um país chamado Cuba.
Entrava num velho carro verde e branco sem marca estampada e uns estofos de couro coçados e rasgados. Uma caixa de velocidade gasta e um motor que diria que estaria a poucos dias de morrer. Juan com a minha idade é pai de família, sintia-me a anos de distância dele. Guiava-me desde do aerporto até ao centro da cidade, numa estrada algo perdida nos anos 60. Estava perdida no tempo, todos os carros eram velhos e coloridos, não lhes conhecia as marcas e os homens acastanhados de chapéu de palha pareciam tirados de um filme. Depois de alguma árvores a avenida entrava pela praça da revolução e dali a alguns quarteirões chegávamos à famosa avenida Malecón para de seguida entrar pela Havana velha.
Saía no principal ponto de referência de Havana, o Parque Central. Encontraria-me com Lorena, uma companheira de viagem que reencontro agora em Cuba. Lorena conhecia a cidade há uma semana e por isso entraria em Havana pelos seus olhos.
-Preparada? Perguntava-me ela, com ar meio frenético.
– Cuba é de uma loucura desmedida, pensei que amaria e acho que não a suporto! Tudo é difícil
– Bem, vamos aproveitar a cidade. Onde se dança? – perguntava eu, com toda a motivação de entrar no ritmo.
As ruas de Havana são cheias. Cheias de gente. Rostos redondos, maquilhados e corpos de curvas bem definidas. Mulheres de vestidos justos à pele, com lábios carnudos e olhos grandes e escuros. Homens mestiços e negros, magros e músculos bem feitos. Olhavam-me na rua, de cima abaixo e não deixavam de parar, comentar, chamar, tentar conversa.
– Hooolaaa! Que guapa! Donde és?
Não respondia, seguia no primeiro dia, entimidada com os olhares penetrantes da cidade.
Passando o parque central, olhando à direita o prado, seguiamos pela rua neptuno até encontrar a casa da música. Matiné às 6 horas da tarde. Entrávamos pela casa de espectáculos num corredor a meia luz até entrar num grande anfiteatro onde a música já tocava e os cubanos já se alinhavam a dançar. Uma banda de vários elementos, com um cantor famoso que desconhecia acompanhado de dez elementos a tocar batuques, trompetes, saxofone e umas jovens a dançar. Um casal sentava-se ao nosso lado. Um mulher de cor branca de meia idade, um jovem mestiço de sapatos de dança, calça justa, camisa meia aberta e brilhantina no cabelo. Dança após dança. E os nossos olhos olhavam descaradamente o espectáculo na ponta dos pés. Atrás um grupo de jovens brancos, com ares vindos do centro da europa, misturados com alguns cubanos, com ares de professores ou jovens galeantes prontos a namoriscar as jovens estrangeiras. Pedimos um mojito. Dois, três. E os pés já começavam a dançar. Juntámo-nos por convite à família de Marina. E com eles, dávamos os primeiros pés de dança. Duas, três músicas. E naquela envolvência, onde ninguém nos conhece, de repente entrava a dançar com Marina em pleno palco ao ritmo que o cantor negro e de pele suada, nos encitava. Depois da salsa, vem sempre o reggateon. Bruno sem ser introsivo, regrava o meu passo desajeitado com pequenas dicas. Uma, duas e à terceira já aquele corpo negro, de cabelos longos em rastas largas se colava às formas do meu corpo. Depois de quatro mojitos, já não havia vergonha e se queria aprender salsa teria de perder a vergonha e o pudor. Tudo fluía. A música, a dança e até aquelas palavras certas sussurradas ao ouvido. Daria mais meia hora de dança e não sei o que se passaria. Passariam das nove da noite e a Lorena chamava-me à terra para encerrar a dança e sair para a rua.
Seguimos pelos becos de Havana guiadas por Marina. As casas com a noite já não tinham cor, plácidas e cheias do pó da terra. Confiava em Lorena que já conhecia Havana há uma semana. Jantaríamos em família. Entre conversas num espanhol que ainda não entendia seguimos para a casa de Marina. Um prédio velho. Um segundo andar alto e com meia luz. entramos numa cozinha velha, apertada e cheia de santos. E a conversa era um tanto ou quanto lunática. Ou seria eu que não estaria a entender nada do espanhol cubano. E nisto, terminámos a noite numa pizaria meia escura e apertada, meio suja e de poucas simpatias. A pagar a nossa e a conta de Marina e seu irmão que também se tinha juntado a nós. Lorena terminaria a noite novamente indignada com a falsa amizade cubana. E eu ainda a aterrar pensava: “mas que ritmo!”
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