A caminho do Nordeste da ilha, pela costa sul, há uma paragem obrigatória: Vila Franca do Campo. Todas as ruas vão dar ao mar e entre canadinhas (ruelas) o porto marítimo já se avista. Os barcos Cristo Rei, Leila Sofia, O meu ganha pão, encontram-se perfilados na orla do porto. No mar, os cardumes de atum já se foram e os pescadores encontram-se em terra.
Há, no entanto, um barco que parte de hora em hora, até um máximo de 400 pessoas por dia (por 5 euros ida/volta). Os últimos turistas do verão e alguns locais partem para o ilhéu, onde ainda vão apanhar banhos de sol e mergulhar nas águas cristalinas. O ilhéu é o vestígio de uma cratera secundária do vulcão inactivo da ilha. O rochedo semilunar forma uma baía, parece guardar a água onde os peixes se protegem da caça do alto-mar. Pode ver-se peixes foliões, congros e alguns carangueijos-ermitas que rodeiam o rochedo de basalto e tufo. O mar entra por ali entre algumas falhas (denomiadas pelos locais de golas) que circundam o rochedo e onde as marés avançam com calma. Este ilhéu tem tanto de magnífico como de místico.
O senhor António Furtado, vigilante florestal, benfiquista com muito orgulho, e com uma imensa vontade de partilhar algo mais aos turistas que vão passando por ali e que pouco ou nada sabem sobre este pequeno paraíso. Ele leva-nos numa expedição pelo ilhéu onde ninguém pode chegar e de onde capturamos as mais belas fotografias. Este ilhéu já foi pirateado em tempos e os seus vestígios de canhões e ancoras encontram-se nas profundezas deste mar, os seus espíritos permanecem naquela pequena florestação, onde ninguém quer entrar. Este ilhéu era um ponto de vigia à baleação e aqui os golfinhos eram capturados e transformados em matéria para aquecer as populações nos tempos de guerra em que o petróleo não chegava à ilha. Este ilhéu já teve uma imensidão de vinhas, as uvas eram apanhadas e levadas para terra em pequenas embarcações que atracavam naquela falha. O ilhéu já passou por várias mãos até que finalmente o governo regional salvaguardou este património transformando-o em reserva natural desde 1983. Neste ilhéu nidificam os cagarros que permanecem aqui no período de verão (estas aves já foram avistadas na América do Sul). E por ali fora… as histórias do senhor António multiplicavam-se. Nos dias de hoje, este ilhéu é um lugar de deleite para os turistas e locais. Por vezes, as míticas provas de salto da competição Red Bull junta aqui os mais brilhantes nadadores mundiais e a população admira os saltos com mais de 20 metros.
Em pleno outono, a agitação por aqui é apenas nas ondas. O último barco que sai ao final da tarde do ilhéu circunda o exterior do ilhéu, onde vimos mais de perto as suas grandes falhas e o penhasco onde se realizam os saltos. O mar azul profundo sacode, apesar das grandes ondas, os turistas para terra. Quem segue à direita chega a terra com vida mas com o corpo ensopado. Por hoje, o marinheiro termina a sua rota. “Mas amanhã há mais”, graceja.
Numa última volta pela vila, pausamos para as famosas e tradicionais queijadas da vila, procuramos os sinais do canhão que em tempos os nazis deixaram na fachada da igreja São Miguel Arcanjo e curvamos a capela onde o Infante de Sagres vislumbra o mar e o ilhéu. Por ali ficamos sentadas, com o Navegador, provavelmente tão fascinadas como os seus marinheiros quando descobriram os Açores.
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[…] Queijadinhas da Vila. A queijadinha da vila vende-se numa casa bem no centro de Vila Franca do Campo. É uma queijada muito pequena e não tão doce quanto parece! Onde comer: Em Vila Franca do Campo, comprar antes de embarcar para o ilhéu. […]