Diários - Perú, Perú

Iquitos, a capital da amazónia peruana

Dezembro 16, 2016

Depois de entrar na Amazónia chegava-me a percepção da sua imensidão. Dificil de chegar e dificil para sair. De avião resumia-se a poucas horas mas de barco a viagem demoraria várias horas ou vários dias.

Cheguei a Iquitos depois de 12 horas de viagem num barco rápido. De barco lento, dormindo numa rede e tomando banhos com a água do rio seriam sensivelmente 3 dias. A experiência da viagem em barco lento teria o seu encanto mas o tempo escasseava e tinha ainda muito a visitar… (com uma data marcada de regresso os planos tornaram-se mais rígidos…)

Chegava a Iquitos, a capital amazónica com traços arquitectónicos europeus. Ao redor da praça de armas, a casa de ferro construída com o toque delicado do arquitecto Eiffel seria um dos ícones da cidade. Perto, a igreja matriz com traços elegantes em tons terras e o hotel El Dorado de uma arquitectura moderna ao lado de um prédio em ruínas. Iquitos era uma cidade caótica e com traços de uma velha tradição europeia levada pelas expedições de Booth Line, na primeira metade do século  XX.  Percorrendo algumas das avenidas surpreendia-me com as casas tradicionais portuguesas, com os azulejos tão familiares da minha cultura. As ruas preenchidas por mototáxis emitiam um som agudo ensurdecedor dia e noite. O bairro de Belén e os corredores do seu mercado tradicional chocavam-me com o cheiros e o lixo no chão, com a diversidade de plantas medicinais e as excentricidades gastronómicas. Junto às bordas do rio, na principal avenida turística, os bares e restaurantes cheios de gente vinda de todos os cantos do mundo. Na segunda linha do rio, a noite enchia-se de jovens e a música rock vibrava nos bares. Iquitos entranha-se no viajante à sua chegada sem uma explicação coerente. Há lugares que se amam, ponto. Sem saber o porquê! O amor não tem explicação consta-se! Iquitos velho, sujo, barulhento, místico e selvagem entranhava-se…

De Iquitos para a selva Amazónica

De Iquitos até Nauta a estrada leváva-nos da cidade cheia de pó até à linhas infinitas verdejantes. Em Nauta, um barco esperáva-nos e dali levaria-nos por 4 horas rio acima até à reserva Pacaya Samiria. No pequeno afluente Yanayacu, como um caminho estreito chegaríamos ao albergue. Completamente isolados de tudo e de todos. A aldeia mais perto ficaria a meia hora de viagem de barco. Selva. Somente selva. À medida que viajávamos selva adentro, avistávamos pássaros de todos os gêneros e a vegetação no rio adensava-se. Chegávamos ao albergue e com o plano dos próximos dias bem delineados. Caminhada nocturna na selva. Observação de caimões numa pequena lancha durante a noite. Pesca matinal de piranhas. Caminhada adentro da selva para observação de animais e pescaria. Nadar numa praia amazónica e com sorte avistar golfinhos rosados. Um plano que enchia as medidas. Ali, no centro do mundo, bem no pulmão do mundo, a natureza fascinava-me novamente. Observámos tarantulas, macacos, preguiças, piranhas, golfinhos, caimões, aves do tempo pré-colombiano, peixes de todas as espécies, cobras, centopeias e tantos outros animais do qual não me recordo o nome. Fui comida pelos mosquitos. Pescámos muitos peixes com uma simples cana de pesca. Comemos gusanos com sabor a leite de côco. Quase morremos de medo com um caimão com mais de 6 metros que  se aproximou a sensivelmente 10 metros dos nossos pés. Tivemos um caimão pequeno nas nossas mãos. O nosso barco foi invadido por gafanhotos multicolores. Andámos de baloiço nos ramos de uma árvore. Aprendemos um pouco sobre plantas medicinais. Não tivemos coragem de pegar numa tarantula. Visitámos uma aldeia indígena. Nadámos na águas do rio Amazonas. Bem… Tanto… E tão pouco! Fascinava-me com a Amazónia e havia tanto por aprender neste lugar. Sobre a natureza, sobrevivência, medicina natural e tanto da cultura ancestral.

A viagem à Amazónia merecia uma emersão de alguns meses, talvez anos. Partia da Amazónia com a certeza de regressar novamente.

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3 Comentários

  • Reply momi Dezembro 16, 2016 at 17:31

    uau…!
    ansiosa por te ouvir a contar tudo presencialmente!
    xi coração, ermã*

  • Reply Filipe Morato Gomes Janeiro 3, 2017 at 12:38

    É sempre assim, quando temos datas fixas não fazemos tudo o que queremos. Mas dá para perceber que aproveitaste ao máximo esta tua viagem, e o que não conseguiste fazer desta vez…. fica para uma próxima. Porque de certeza vai haver próxima. Beijo grande e bom regresso.

    • Reply Patrícia Campos Janeiro 4, 2017 at 12:57

      Obrigada Filipe Morato Gomes! Com certeza mais viagens 😉 Temos sede das tuas histórias… Li muitos artigos teus durante a viagem… Acompanhaste-me muitas vezes 😉

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