Estás a preparar uma viagem pela América Latina e o mal da altitude está na lista das tuas preocupações? Na minha viagem pela América Latina o mal de altitude não me assombrava até ao momento em que cheguei a Huaraz e visitei o Glaciar Pastoruri. Vinha da Amazónia e nem sequer tinha preparado a viagem para as montanhas. Cheguei cansada a Huaraz e pensava que seria da viagem nocturna no autocarro. Na verdade, sentia os primeiros sintomas de mal altitude. O que fiz? Aventurei-me sem medir consequências e senti-me mal. Não deixes de visitar as mais belas paisagens da América Latina mas previne-te e toma cuidados durante a viagem.
Na América Latina são vários lugares que te podes colocar em ambientes superiores a 2000 metros. O frio, a baixa humidade, o aumento da radiação ultravioleta e a diminuição do oxigénio atmosférico são factores que preocupam. E neste leque de condicionantes, a hipóxia (falta de oxigénio) é o mais preocupante. Sem oxigénio não há vida, na falta de dele o teu organismo vai reagir. O ritmo cardíaco e a ventilação são os primeiros a darem o alerta. O teu corpo precisa de tempo para se adaptar ao novo ambiente!
O ideal é viajar durante 3 a 5 dias em altitudes inferiores os 2000 metros antes de te aventurares a altitudes superiores a 3000 metros. Se queres viajar para lugares acima dos 5000 metros a climatização é mais longa e possivelmente levará mais de uma semana a climatizar.
Quais os riscos que vais correr?
Acima dos 3000 metros de altitude, a consequência mais comum é o Mal da Montanha Agudo. Podes sentir cansaço ao subir uma pequena rua ou apresentar cefaleias intensas que podem estar acompanhas de naúseas ou até mesmo vómitos. Não entres em alarmismos, é necessário tempo para a climatização.
Mesmo que sejas saudável e estejas em boa forma física isto pode ocorrer! Por isso, a climatização é fundamental! A adaptação previne doenças advindas da altitude, como melhora o conforto, o bem-estar e o desempenho no exercício a realizar.
O Edema Agudo do Pulmão ocorre mais raramente. A incidência é de um em cada cem escaladores a uma altitude acima dos 4270 metros. É mais frequente nos homens do que nas mulheres. E ocorre pela acumulação de água no espaço pulmonar. Alguns dos sintomas que podes apresentar são: dispneia, tosse, fadiga e expectoração rosada devido à presença de sangue. Esta situação pode ser fatal. Portanto, perante os sintomas é recomendado baixar a altitude ou administrar oxigénio.
O Edema Cerebral da Altitude é a progressão severa do mal estar da altitude e a sua incidência é rara. Muitas vezes está associado com o Edema Agudo do Pulmão. Em conjunto com os sintomas habituais de cansaço, dispneia a pequenos esforços e cefaleias podes também apresentar confusão, descoordenação muscular ou até mesmo inconsciência. Novamente, a solução é descer abaixo dos 3000 metros e providenciar cuidados médicos especializados.
Queres com mais detalhe todas as recomendações sobre os problemas que possam surgir na Altitude, então recorre ao site Centers for Disease Control and Prevention (https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2016/the-pre-travel-consultation/altitude-illness/pt)
O que podes fazer para prevenir ou reduzir os efeitos da altitude?
A recomendação mais importante e que deves ter sempre em consideração para qualquer viagem é a realização de uma consulta de viajante. Depois, prepara a tua mala de viagem com um kit de primeiros socorros (incluindo a medicação específica).
No entanto há recomendações importantes no que confere à prevenção ou redução dos efeitos do mal de altitude. Aqui estão deixo-te uma lista de conselhos:
1. Sobe gradualmente, se possível. Evita ir diretamente de baixa altitude para mais de 9.000 pés (2.750 m) de altitude em 1 dia. Uma vez acima de 9.000 pés (2,750 m) de altura não ascendas mais de 1600 pés (500 m) por dia, e planeia uma taxa dia para aclimatização a cada 3.300 pés (1,000 m).
3. Evita álcool e café durante as primeiras 48 horas.
4. Bebe muita água e caso realizes um trekking leva pelo menos entre 2 a 3 litros de água.
4. Nas primeiras 48 horas realiza apenas exercícios/caminhadas leves. Depois sempre que realizes uma caminhada, vai devagar e pára as vezes que for necessário.
2. Considera o uso de acetazolamida para acelerar a aclimatação, se planeias uma subida abrupta (provavelmente o médico da consulta do viajante te irá prescrever). Nas comunidades andinas o remédio mais comum é as folhas de coca. Infusões de folhas de coca ou simplesmente mascando (atenção, não engolas!). Em outras regiões do globo, estas folhas serão raras e ilegais. Outra solução é o consumo de gingko biloba. Crê-se que este suplemento ajuda a acelerar o processo da climatização e a reduzir os efeitos do mal da altitude.
Estás assustado com tantos riscos?
Primeiro, não te preocupes tanto senão não aproveitas a viagem! Segundo, planeia a viagem e fica em alerta para os possíveis sinais e sintomas! Vale a pena correr este risco até porque há lugares mágicos, com Cusco (3399 metros), o Lago Titicaca (3821 metros), Machu Picchu (2430 metros), a montanha da sete cores (5200 metros), a Laguna 69 (4600 metros), o Glaciar Pastoruri (5200 metros) e tantos outros, que são imperdíveis!
Depois disto tudo, estás a pensar que estou a escrever sem experiência sobre o assunto? Então, conto-te que estás errado! Sofri do mal de altitude por duas vezes quando realizei trekkings acima dos 5000 metros de altitude. Faria-os de novo? Sim, com toda a certeza! Foram alguns dos momentos mais inesquecíveis que vivi na minha viagem ao Perú!
Para além, é certo que os medicamentos apresentam efeitos secundários e bastante desagradáveis. Na minha opinião, o mais importante nesta viagem é uma excelente hidratação. E não corras riscos desnecessários!
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