Colombia, Diários - Colombia

Medellin, uma cidade transformada

Outubro 28, 2016

No centro da cidade a visita começava cedo com o Marow e Hector. Marow, um jovem paisa professor na universidade de Medellin, levava-nos a um café antigo no centro histórico da cidade para iniciar a visita com sabor. Por momentos pensei que estaria no Porto, no café do Bolhão, a tomar o café da manhã. A bandeja na mão no senhor vestido a preto e branco sempre com um passo rápido mas com delicadeza para não entornar uma gota de café.

Este foi o inicio de um passeio dialogante pela cidade. Marow despertáva-nos com um pingo de café e de seguida leváva-nos pelas principais avenidas da cidades. Praça de Botero. As esculturas arredondadas, uma metáfora à ganância humana, que Botero doou à sua terra natal e que são um dos principais pontos turísticos da cidade. Botero foi pintor e escultor, um artista do passado, com um carácter forte e irreverente na arte colombiana, um crítico social e político. Com raízes colombianas e com um grande legado por todo o mundo.

Pinturas de Botero à venda pelas ruas de Medellín

Pinturas de Botero à venda pelas ruas de Medellín

Pela avenida Carabobo seguiamos até à Praça Cisnero ou Praça das Luzes, uma enigmática praça totalmente rejuvesnecida das cinzas da guerrilha. Luzes altas como se fossem árvores, rodeadas de bambus e fontes de água, são hoje um símbolo de esperança para o futuro de Medellín. Uma cidade renovada cheia de simbologia que apela aos paisas para uma paz duradoura. A uns metros dali, chegávamos à Praça Santo António onde mais uma vez observavamos umas das obras de Botero. Aquela praça que teria sido alvo de uma massacre horrendo no ano de 1995 matando cerca de 29 pessoas. Um ataque reclamado por vários grupos guerrilheiros e que deixaram marcas profundas na praça. Contava Marrow, que Botero naquela altura  pediu ao Presidente do Conselho de Medellin que conservasse a sua escultura destruída na praça oferecendo uma totalmente nova. Ali estavam ambas as esculturas para fazer lembrar ao povo o massacre, para que a história não se repita. A década 90, foi uma altura extremamente dificil em Medellín, uma história recente que ainda tem marcas na sociedade de hoje. Todos os paisas contam nas suas famílias vários homicidios, histórias de violência e uma insegurança diária nas ruas. Marrow é apenas mais um colombiano que conta o rapto de parentes próximos. E este é um tema sensível, pouco abordado e muitas vezes um tema que evitam falar.

Praça das Luzes pela noite

Praça das Luzes pela noite

Marrow leváva-nos pelas áreas mais modernas de Medellín. Um edificio totalmente sustentável revestido de plantas, pertencente à empresa de energia eléctrica da Colombia. Umas das principais actividades económicas da Colombia. E depois pelo Parque dos Piez Descalzos. Um espaço para despertar sentidos, onde os paisas desfrutam do som das águas, onde caminham descalços na areia, numa área empresarial e estudantil, ordenada e elegante. Um toque de modernidade na cidade. E onde se avista também a magnificiente obra do metro. Medellín orgulha-se de ser a única cidade com metro. Um sistema de metro e teleférico que permitiu a mobilidade dos cidadãos, desde os bairros mais pobres até ao centro da cidade, tornam Medellín uma cidade unida. Apesar dos rumores acerca da sua construção teve apenas viável com o património de Pablo Escobar.

Pablo Escobar pelas palavras de Erik

Pablo Escobar pelas palavras de Erik

E quando se pronuncia o nome de Pablo Escobar na rua, há sempre o risco de alguém se aproximar para defender com unhas e garras o povo colombiano. Assim foi, numa das ruas de Medellín, Erick, um homem velho vestido calças largas, óculos antigos, uma maleta debaixo de braço e um chapéu para afastar o sol, aproximava-se de nós. Contava ele, que Pablo teria beneficiado uma classe pobre nos bairros envolventes de Medellín mas nada disso justificava a tempestade de terror que mergulhou Medellín naquele tempo. Pablo perdeu-se no momento que se envolveu com a politica e daí todos sabem a história. Os seus olhos tornavam-se avermelhados, a sua voz forte e com um toque de rancor. Erik caminhava pelas praças abordando os turistas para dar uma imagem de uma Colombia alegre e amável. E sim, não tinha dúvidas que Medellín era feita de pessoas amáveis, em cada esquina era fácil fazer um amigo sem qualquer tipo de pretensão.

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