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No Amazonas, na fronteira tri-partida

Dezembro 2, 2016

O avião sobrevoava o Amazonas. Um manto verde com o rio a serpentear. Aquela imagem de livros antigos chegava-me agora aos meus olhos. Estava fascinada com a paisagem sobre o pulmão do mundo.

O avião sobrevoava o Amazonas  e a aterragem na cidade de Leticia pareceia-me uma chegada ao lugar inóspito e distante do mundo. As portas abriam-se e o calor húmido sufocante saudava-me de uma forma assoladora. Do aeroporto até à cidade havia apenas uma avenida. Frente ao rio Amazonas, do lado colombiano, encontrava-me com o Brasil e o Perú. Uma mistura sem diferenças. Todas as línguas se conheciam. A moeda misturava-se. As famílias cruzavam-se.

Voar sobre o Amazonas Colombiano

Voar sobre o Amazonas Colombiano

Ao longo do rio Amazonas as comunidades indígeneas sobreviviam com sinais de alguma modernidade. A ideia de uma Amazónia distante do mundo e com tradições ancestrais faziam parte de um passado. Em cada comunidade haveria um líder de comunidade, um líder espiritual, uma escola e por vezes um centro de saúde que receberia visitas de um médico esporadicamente. Todas as comunidades sobreviviam com o que o rio lhes davam e com o trabalho árduo da terra. A eletricidade chegava por produção sustentável e com um limite de consumo diário. Ao longo do rio Amazonas, várias comunidades vivem separadamente mas com um elo à civilização moderana, o rio Amazonas.

No Lago Tarapoto

No Lago Tarapoto

Puerto Nariño

Puerto Mariño é um munícipio do Amazonas e o principal centro turistico no pulmão colombiano. A cerca de 75 km de Letícia, a 2 horas de barco, guarda a herança dos povos indigeneas Ticunas, Kocamas e Yaguas. Numa pequena embarcação seguia por dos afluentes do rio Amazonas para observar a selva, as aves e as piranhas no Lago Tarapoto. A florestação era tão envolvente, o sol quente a queimar o corpo e um pequeno golfinho rosado a guiava-nos o caminho. É indescrítivel a sensação de comunhão com a natureza. O verde imprenetrável, o rio alto, térreo, com troncos à mistura e alguns pescadores ao longo do rio em pequenas canoas de madeira. O embalo do barco e o silêncio da natureza. As aves em melodia. De volta a Puerto Nariño, ainda havia algum tempo para caminhar pela povoação antes de o último barco partir para Leticia. Ao longo do rio, casas em madeira se alinhavam ordenadamente. As mães sentadas nas redes com os bebés a descansar à sombra. Os arruamentos subiam a montanha ordeiramente até ao mirador que alcançava toda a região. Naquele dia, junto ao campo de futebol era dia de entrega de alimentos às famílias mais carenciadas. Todos se juntavam e em jeito de festa recebiam as oferendas.

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As casas coloridas de Puerto Nariño

Santa Sofia

Depois de Puerto Nariño seguia para outra povoação. Santa Sofia, era uma povoação indigena ao longo do rio Amazonas. Desde o porto até à aldeia seriam 15 minutos de caminhada. Um trilho na natureza, com indegenas que chegavam ao final do dia de Leticia. Voltavam da feira onde vendiam os seus legumes semanalmente. Juntava-me a eles na caminhada até chegar a casa de Gilda. Ali me esperavam para jantar uma refeição ligeira com peixe do rio.

O dia não terminava aqui. A noite tinha uma lua cheia cheia cintilante e com James seguiria pela floresta adentro. Meia hora de caminho até à reserva Tucuchira e dali mais de 2 horas a observar animais na selva. As tarantolas a rastejar nas folhas. As folhas que tinham luz durante a noite. As seibas frondosas. E a anaconda prometida que não conseguímos observar. Suspirava de alívio!

Dormia na selva. Somente eu e todos os animais da selva. Embalada pelos sons da selva numa rede, protegida com uma rede mosquiteira. Acordava com a luz matinal e com o sons dos pássaros a despertar com alegria. Acordava na reserva Tucuchira, agora com noção do espaço donde me encontrava. Duas casas e algumas áreas de lazer. Puderia viver no paraíso por ali algumas semanas, pensava. De repente, os macacos desciam as árvores. Juntava-me a Gilda para alimentar os macacos selvagens, que curiosos e desconfiados nos chegavam às mãos. Horas de descanso. Longe do mundo e de todos os ruídos modernos. Voltava a Leticia como que regressasse de outro planeta.

Reserva Tucuchira

Reserva Tucuchira

Leticia

De volta a Leticia, anseava a chegada do pôr-de-sol. No largo principal de Leticia a partir das 5:30 chegavam os louros. Um espectáculo audível em toda a povoação. A pouco e pouco, juntavam-se milhares de louros no parque. Um céu negro e uma cantoria estridora. Os turistas chegavam às dezenas, com o pescoço estiacado a olhar o céu e um ar estupefacto perante a natureza. De onde surgiriam estes milhares e milhares de pássaros? O concerto durava horas…

Leticia era uma pequena cidade com um pouco da civilização moderna. Restaurantes, bares, supermercados grandes, lojas de roupa, pastelarias. O verde envolvia a cidade mas o frenesim das motas a cruzar as principais avenidas, os fatos e gravatas a passar para o banco da esquina e a fila nos supermercados aniquilavam a ideia de estar a viver na Amazónia.

A Amazónia do imaginário bibliotecário resumia-se a uns quantos livros das prateleiras bibliotecárias. O tempo dissolvia dia após dia com modernização a civilizações indigenas.

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1 Comentário

  • Reply Uma aventura de bicicleta na estrada da morte | Lookingaround Outubro 17, 2017 at 10:46

    […] paisagem era sublime sobre o vale montanhoso. Estávamos algures entre a cordilheira andina e a Amazónia. A primeira parte da descida seria numa estrada asfaltada mas o desnível era acentuado. Descíamos […]

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