O que nos permite gostar ou menos de um lugar? Um lugar de uma beleza inesquecível podia não ser o lugar que mais deslumbrante da viagem. E a razão era simples. Não partilhava aquele momento com alguém especial ou teria passado por uma situação desagradável. O lugar torna-se tanto mais especial pelas pessoas do que pelo lugar em si mesmo.
E assim chegava a Ica. Depois de um belo dia de sol junto à praia de Paracas, onde embarquei numa viagem até às Islas Balletas. No caminho marítimo observava o famoso geoglifo semelhante a um candelabro gravado nas dunas. Um género de arte indígena com mais 150 metros de altura e 50 metros de larguras, que se desconhece a sua origem. Alguns o conectavam às Linhas de Nazca, enquanto outros propunham que teria servido como um guia de navegação para marinheiros antigos baseado na constelação da Cruz do Sul. Alguns até acreditam que ter sido inspirado por uma espécie de cacto local com propriedades alucinógenas. O barco contornava os arcos e as cavernas das ilhas para visualizar aves, pinguins e sobretudo leões marinhos. Eram várias as colónias dormitando nas rochas e era impressionante a proximidade com que as câmeras fotografavam.
Retomando a viagem… Chegava a Ica. E Artur já me esperava na estação de autocarros com a sua moto para me levar ao seu lar. Uma família peruana simples, alegre e curiosa. Todas as famílias que me recebiam tinham uma curiosidade enorme em conhecer outros países, outras culturas e a história do viajante. Sentia-me em casa. E bem recebida. Marion, uma jovem francesa que realizava voluntariado numa ONG local e amiga da família, preparava um jantar de crepes salgados e doces para todos. Uma cozinha com 10 metros quadrados onde todos ajudavam a virar crepes e mandavam palpites. À hora de sentar à mesa todos estavam centrados no diálogo e a televisão servia apenas para partilhar músicas. Arturo e sua esposa tinham um jovem inteligente de 15 anos. Não era o mais sedento das nossas histórias. Arturo tinha uns olhos castanhos grandes e doces e que brilhavam com as histórias de viajantes. Como tinha chegado ali? Através de um amigo polaco que conheci em Huaraz e que me partilhava o contacto em conversa. As redes de amigos eram como família e conhecer peruanos desta forma era tão genuína! No dia seguinte, seria a minha vez de partilhar um pouco da cozinha portuguesa para todos depois de um passeio pelo deserto de Huacachina.
Arturo levaria-me desta vez até ao oásis de Huacachina. Na sua pequena mota seguíamos pela ruas empoeiradas da cidade até entrar pela estrada onde as casas iam desaparecendo gradualmente. Até finalmente chegarmos a Huacachina. Um oásis pequeno onde alojamentos e restaurantes circundavam as águas. Vários buggies perfilavam na entrada para levar os turistas às loucas aventuras pelo deserto. E ali começava o divertimento. Em grupos de 10 pessoas, os carros subiam e desciam as dunas em velocidades loucas… Os gritos de susto entoavam pelas dunas e quase que saía surda com 3 meninas asiáticas que não continham o medo! Nos intervalos ainda tivemos tempo para um descer numa prancha os desfiladeiros. A adrenalina ascendia as expectativas. Alguns perdiam o controlo enrolando-se nas areias finas. Os mais aventureiros realizam sand-boarding como especialistas, de pé em trajetórias curvilíneas. Os mais modestos, deitados na prancha desciam sem arranhões. Uma aventura curiosa, um pouco semelhante ao que já tinha vivido no vulcão da Nicarágua. Contudo, com muito mais loucura!
O pôr-do-sol chegava. O jantar com a família de Arturo seria um dos momentos mais deliciosos do Perú. E logo de seguida, partiria de noite com saudades, para mais uma das longas viagens nocturnas. Seguia agora para Arequipa.
2 Comentários
Olá Patrícia,
Digo muitas vezes exatamente isso: as pessoas fazem os lugares. Quantas vezes um lugar sem interesse de maior se torna na mais extraordinária experiência de viagem só por causa de alguém? 🙂
Beijinhos e até breve,
Filipe
A maior experiência da viagem é essa mesmo! Porque amas o Irão? Talvez por serem um dos países mais hospitaleiros do mundo… Um dia vou contigo ao Irão 😉 beijinhos e obrigada por continuares a inspirar…