Se acham que o Porto não é cidade para andar de bicicleta desenganem-se! Eu que vivia numa pequena vila e que podia andar de bicicleta entre a natureza, só redescobri este prazer no Porto. Nos domingos solarengos de Outono tenho um roteiro entre o centro histórico e a Foz que não me canso de repetir.
Ponto de partida: Avenida dos Aliados. Entre o tráfego de carros em pleno centro histórico desço até à Ribeira pelas ruelas do bairro da Sé. Sinto a excitação do perigo nas descidas íngremes das ruas estreitas do bairro da Sé. Com cuidado, que na rua há sempre gente.
Chegada à Ribeira, sigo o rio em direcção à Foz. Em ritmo de passeio, sempre olhando em redor, vou parando aqui e acolá. Tenho tempo e os domingos são para relaxar. Passo o velho casario de Miragaia, vou a par com o elétrico da linha 1 e cruzo a ponte da Arrábida.
Mais à frente páro junto aos pescadores. Sentados a jogar cartas ou em conversas quentes entre amigos mas sempre com o olho no rio. Dali parte a cada 20 minutos um barco com alguns moradores e turistas em direcção à Afurada.
Continuando a pedalar e a seguir a foz do rio, as curvas levam-me até ao Passeio Alegre. Um jardim romântico, ideal para passeios em família, onde os bancos vermelhos convidam a namoriscar. À sua esquerda e par com o rio uma rua larga de palmeiras e por fim o farol a anunciar o mar. Chego à Foz. Páro por ali breves momentos. Observo as pescarias, os turistas e os portuenses que ora passeiam o cão, ora fazem a corrida matinal, ora se sentam a sentir o sol e a ler o jornal diário.
Ao domingo não há horas para almoçar, pára-se quando o estômago pedir. A Foz é o local requintado da cidade e eu dou-me ao luxo de apreciar um bom restaurante. Dia de descanso e de pequenos prazeres. Na terceira linha do mar há um quarteirão com restaurantes da autoria do Vasco Mourão. A Casa Vasco é uma espécie de bar rústico com “comes e bebes” num ambiente descontraído. O interior assemelha-se a uma mercearia antiga, com o chão em mosaicos e as janelas altas a deixar entrar a luz nas conversas dos amigos. Um local de prazer pautado de requinte e descontração.
Depois do almoço… De volta ao mar. Pedalo junto ao mar ou na ciclovia ao longo da Avenida Brasil. Neste trajeto ainda há tempo para um café numa esplanada. O I-Bar fica entre o Molhe e o Castelo do Queijo. Num recanto abaixo da linha da avenida e com o mar aos seus pés. Um espaço descontraído e com boa música ambiente, onde aproveito os últimos banhos de sol.
O dia avança e dali regresso ao centro da cidade. Agora pela natureza. Sim, é possível. O Parque da Cidade com 83 hectares e inicia-se junto ao mar, perto do Castelo do Queijo. O passeio segue em direção ao lago, aí passo a ponte de pedra e atravesso a vinha que segue à saída superior do parque. Dali sigo a ciclovia até ao Parque da Pasteleira. Gosto de pedalar por ali pelas suas curvas fechadas em descidas acentuadas onde pinheiros bravos e sobreiros conduzem à saída. Depois atravesso a rua e desço sempre até ao observatório das aves no Fluvial. De novo junto ao rio.
Do Fluvial até aos Aliados volto pelo mesmo trajeto inicial. O pôr-de-sol junto ao rio tem sempre o seu encanto. Ao chegar ao Mercado Ferreira Borges inicio a subida. A única subida íngreme em todo o passeio, esta não é a mais acentuada subida no regresso ao centro, contudo esta basta para tirar o fôlego. Inicio a rua Mouzinho da Silveira e viro na direcção da rua das Flores. E aí chegada, tudo torna-se mais fácil. Aprecio devagar a nova vida que as novos restaurantes, hotéis e lojas devolveram a esta emblemática rua. É final da tarde, vale a pena parar para comer um gelado numa das diversas gelaterias que existem por ali. Já perdi algumas calorias para me permitir ao pecado da gula!
O sol encerra o dia antes das 20 horas. Os pedáis estão um pouco cansados e eu de alma cheia para iniciar uma nova semana de trabalho. Sempre que o sol espreita no Outono estou pronta para pedalar, porque as subidas íngremes do Porto afinal são uma pequenina parte do passeio.
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