Tudo parece estar tão perto! E a verdade, é que realmente está! Perto do mar, perto da montanha, perto do céu!
Com o ponto de partida a casa da Dona Fátima nas Capelas e com o sol a espreitar, o primeiro ponto de visita será a 5 minutos de casa. A poça das Capelas é uma piscina natural onde a temperatura é sempre agradável e onde as ondas vão entrando devagar. Ali ao lado, seria o porto onde as baleias chegavam. As ruínas dos edifícios e a mata a crescer nos campos mostra sinais de um passado pouco longínquo. Na rampa de ascensão dos barcos agora vejo crianças em acrobacias a mergulhar no mar. E no miradouro já não se avista as baleias. As correntes nesta altura do ano fizeram com que os cachalotes se movem-se para norte, aqui regressam novamente pela primavera.
Com o corpo ainda salgado seguimos estrada fora, seguindo a voz de Jorge Palma na rádio Atlântida “enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar”. Assim fizemos pé à estrada. Passamos algumas aldeias numa estrada longa e reta, com campos verdes e o mar à vista. Maria leva-me por Rabo de Peixe mas aqui é só de passagem, diz ela. A estrada regional que curva o centro da aldeia divide ricos e pobres. Abaixo desta linha, jovens, crianças, mulheres e homens de rosto rude e de poucas amizades vagueiam junto ao mar. Rabo de Peixe é um centro de problemas sociais longe de serem resolvidos. Acima da linha da estrada, bairros de casas bem arranjadas e um pouco ao quanto luxuosas. Maria não pára, segue viagem em frente com paragem a pouco mais de 10 minutos.
Ora aqui está uma praia com ondas! Esta é das poucas praias com verdadeiras ondas. O areal cinzento enche-se de surfistas e leitores. As ondas multiplicam-se e desfazem-se nas rochas que existem junto à esplanada do TuKaTuLá Bar e bem perto dos banhistas que se estendem ao sol na praia. O mar é de tal modo insurdecedor que nem se ouve a gritaria habitual das crianças nas brincadeiras, transmitindo assim aos leitores uma sensação de plena tranquilidade. Nestes dias o Campeonato de Surf Sata Azores Pro encheu a esplanada da praia e as ondas de piruetas bem equilibradas. Os surfistas de chapéus de palas largas, com os calções abaixo do joelho, os corpos queimados do sol e os cabelos loiros torrados é a imagem típica que enche Santa Bárbara e onde as câmeras fotográficas capturam os mais bravos momentos. “Don’t give up!”, “Peace and surf”, os lemas deste bar parecem enquadrar bem. Um estado de espirito que preenche quem passa por cá, ou será melhor dizer lá…
Com o céu aqui tão perto, o mar não chega. A costa norte tem a mais bela lagoa dizem os micaelenses. Na minha opinião tudo me parece perfeito, tenho dúvidas em eleger qual a melhor paisagem. Quando o céu abre na montanha, segue-se, por pouco mais de 20 minutos, da praia até à cratera do vulcão. Pelas curvas da serra de Água de Pau, subimos à Lagoa do Fogo. A densa vegetação endémica, as gaivotas, os milhafres e os melros rodeiam as águas da mais alta lagoa de ilha de São Miguel. Vários são os miradouros e trilhos que levam todos os turistas e locais a percorrer este vulcão extinto há mais de 5 mil anos. Há que ter alguma sorte com o tempo, a neblina habitual que percorre a ilha muitas vezes deixa a lagoa sem visibilidade. Mas até este fenómeno é digno de apreciar. O nevoeiro sobe e desce a encosta a uma velocidade rápida fazendo estragar as fotografias dos turistas que por ali vão passando. O nevoeiro desce, a lagoa esconde-se e está na hora de descer a encosta curvilínea.
Entre estas curvas, a pouco mais de 5 minutos da lagoa mais uma paragem, mais um ponto turístico obrigatório. Numa curva apertada, um portão dá entrada a uma floresta densa. É preciso explorar. Entramos na Caldeira Velha num caminho de terra avermelhada, com alguns esquilos a esconderem-se nas folhagens e os fetos arbóreos a cobrir o céu. Dali a alguns metros vê-se um aglomerado de fumarolas que conduzem a água sulfurosa para um pequeno tanque onde as pessoas repousam o corpo e recuperam energias. Maria não me deixa ficar por ali, começamos a experiência mais acima. Entre algumas árvores, uma enorme cascata surge e com água morna, diz ela. À medida que nadamos até à cascata a água aquece e por breves momentos deixamos a água quente a estalar no corpo. Se atrás achava que estava no céu, junto às nuvens, aqui de repente, muito rápido nos sentimos no céu.
Perto do céu, perto da montanha, perto do mar! E em menos de uma hora retrocedemos no caminho até às Capelas! Tudo está perto de tudo!
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