Samaipata é uma pequena aldeia a caminho de Santa Cruz de la Sierra, onde o turista pode ficar enfeitiçado. Assim aconteceu com Andres, Serdar e tantos outros que chegaram a Samaipata e ficaram! Uma pequena aldeia, com ruas arranjadas, onde se respira ar puro e uma tranquilidade silenciosa. Uma aldeia de mochileiros, hippies, aventureiros e nómadas. A pouco mais de cem quilómetros de Santa Cruz de la Sierra, este é o refúgio de muitos bolivianos e estrangeiros.
Cheguei de madrugada, seria umas cinco da manhã. Os horários de autocarros na Bolívia são muito estranhos! Depois de caminhar com a alvorada pelas ruas de Samaipata, Andres abriu-me a porta de uma pequena casa de alojamento local, intitulado como hostal Andoriña. Andres, é holandês de gema mas boliviano de coração, com mais de sessenta anos de idade e mais de vinte anos a viver na Bolívia. Ele, é apenas mais um viajante enfeitiçado pela tranquilidade e simpatia desta pequena aldeia.
O que tem Samaipata para cativar e enraizar tantos estrangeiros e bolivianos de outras cidades? Tranquilidade, natureza e cultura. À volta da praça central os restaurantes era pequenos, bem decorados e com uma mistura da cultura boliviana com um toque internacional nos seus cardápios. A maioria dos habitantes de Samaipata são estrangeiros. Holandeses, franceses e alemães. Numa das minhas deambulações por Samaipata, Martin contava-me que há muitos anos atrás um escritor estrangeiro terá previsto o fim do mundo. Nesse livro, Samaipata seria um dos lugares sobreviventes dessa catástrofe. Previsões que nunca se cumpriram e tantos foram os livros que proclamaram este acontecimento. Contudo, várias pessoas resolveram conhecer Samaipata e por cá ficaram!
Andres é um homem com uma vida simples. Para além da Andoriña, alojamento local, passa os seus dias a ler, fotografar, a jardinar e desfrutando das amizades na terra. Uma vida pacata que lhe dá anos de vida! Já não pertence à Holanda mas às terras terras da Bolivia.
A um passo da praça central havia um pequeno mercado local onde todos os sábados os agricultores dos arredores vendiam nas ruas os legumes frescos. E na mesma rua, havia uma pequena biblioteca pintada com os desenhos do Principezinho. A influência estrangeira era mais do que evidente. Samaipata era uma aldeia hippie. As rastas eram algo de comum nas ruas, a venda de artesanato nas ruas por nómadas era uma prática recorrente, as práticas de yoga, reiki, ayuasca e outros rituais estavam afixados em pequenos cartazes nos cafés. A Bolívia estava aqui mas era preciso procurá-la!
Serdar era mais um estrangeiro em Samaipata. Viajou da Turquia para a América Latina com o objetivo de viver na Argentina. O sonho não se concretizou e durante a sua viagem, foi em Samaipata que decidiu viver. Começou por vender na praça central os seus petiscos e actualmente já tem um restaurante numa artérias da aldeia. La Cocina, é uma hamburgueria com produtos bolivianos e com um toque da cozinha europeia. Os hambúrgueres gourmet estão na moda em todo o mundo. Em viagem tento fugir a estes conceitos mas este lugar tinha uns dos melhores hambúrgueres que eu já comi na minha vida! Ao passar na rua e os próprios clientes a convidar a entrar é algo de raro. Isto diz tudo o que Sedar tem para dar! Ele e a sua equipa boliviana não uma delícia na arte da cozinha e do convívio.
Mas onde estavam os bolivianos? Martin e Gabriela são boliviano mas são naturais de Santa Cruz de la Sierra. Eles decidiram viver longe da cidade e encontram nos arredores de Samaipata o refúgio que sonharam. Com um estilo de vida alternativo, gerem um alojamento local com uma gastronomia 100% biológica e dedicam-se às terapias alternativas. Jacqueline (holandesa) e Hans conheceram em viagem e foi no vale El Chorrilo, a poucos quilómetros de Samaipata que construíram um eco-lodge para viver na natureza com serenidade e bem-estar. Infelizmente, Jacqueline não se encontra entre nós, mas Martin e Gabriela dão vida ao seu sonho Libélula.
A principal atração turística de Samaipata é sem dúvida o sítio arqueológico onde fica o Forte de Samaipata (El Fuerte de Samaipata). Localizado a cerca de 8km do centro de Samaipata, o forte é a maior pedra talhada do mundo e uma das mais importantes construções monolíticas do planeta. Local de antigos rituais indígenas, o forte fica em uma montanha alta que seria o centro cerimonial de uma antiga cidade.
A enorme pedra conta ainda com um complexo de estanques e canais extremamente bem preservados que demonstram uma série de tradições e crenças. Por isso, o Parque Arqueológico de Samaipata foi declarado Patrimônio Cultura da Humanidade pela UNESCO, em 1998. Para chegar ao forte, a aventura começou com uma viagem em moto-táxi. Não há outra forma de chegar ao forte!
Do alto da forte, é possível ver o encontro de 3 tipos de vegetação:
- Ao Norte fica o início da Floresta Amazónica, com suas árvores enormes e vegetação densa;
- Ao Sudeste observa-se o Chaco, mais conhecido no Brasil como Pantanal, com suas planícies alagadas e árvores mais baixas;
- A Oeste é possível ver a vegetação típica da Cordilheira dos Andes, com um clima de altitude mais seco e plantas rasteiras.
O segundo ponto turístico mais importante nesta região é o Parque Nacional Amboró. Esta é talvez um dos lugares mais remotos e desconhecidos do mundo. Amboró encontra-se numa posição geográfica única, conjugando três ecossistemas diferentes: a Amazónia, O norte de Chaco e os Andes. Aqui existem mais de 800 espécies de aves, jaguares típicos da região amazónica, árvores raras como Mara com madeira fina, palmeiras altas como a Chonta e uma grandes variedade de orquídeas. É um parque onde poderia perder-me facilmente e onde poderia caminhar por mais de 4 dias na selva tropical. Esta era uma viagem para outra viagem.
Fugi de Samaipata rapidamente porque sabia que me poderia ficar presa a este lugar. Não era difícil! Era fácil fazer novas amizades, de desenhar novos projetos e de me entregar à natureza. Samaipata era um refúgio e ainda um segredo bem guardado da Bolívia.
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