Muitas vezes questionam-me sobre os tantos amigos que fui encontrando pelo caminho. Como os conheci? Onde os encontrei? Se viajei muito tempo com outros viajantes? A rede de amizades que fui travando ao longo da viagem surgiu de diversos ângulos. Desde de amizades travadas no autocarro, em hostéis, pelo Couchsurfing, no Workaway, amigos dos amigos ou amizades travadas num outro lugar qualquer. No autocarro, no boteco da esquina, no restaurante, nas aulas de mergulho, nos museus ou nas caminhadas. Tal como a vida, a viagem foi me colocando as pessoas certas no caminho.
Enquanto viajante viajei numa tentativa de aproximação à cultura local. E por isso, tanto o Couchsurfing como o Workaway foram plataformas informáticas que me permitiram rapidamente encontrar novos amigos. Os grupos de Facebook podem ser também ser úteis para encontrar novos amigos. A procurar portugueses pela Costa Rica cheguei ao LaPalapa do Manuel em Portalón. Ele abriu-me a porta do seu paraíso de uma forma extraordinária! Senti-me completamente acarinhada. Em família.
No entanto, outras redes foram surgiram ao longo da viagem. Longe das redes da internet, os hósteis são os lugares mais propícios a encontrar outros mochileiros. Encontra-se gente de todas as idades, maioritariamente jovens contudo muitas vezes casais ou viajantes solitários bem mais velhos. À volta da mesa, no alpendre do alojamento, à volta da mesa das cartas, à hora do pequeno-almoço. É fácil de travar uma conversa, de partilhar um pouco das aventuras de viagem. E dali, é meio passo para juntos sairmos a calcorrear a cidade, a vila ou a floresta. Muitas vezes, fugi destes locais para me encontrar com gente local mas na falta de opção, este foi o lugar de eleição para me hospedar. Destes momentos guardo grandes amizades. Uma lista infindável de nomes, alguns deles com reencontros em outros lugares. Como foi o caso da Sarah que conheci em Santa Marta na Colômbia e que mais tarde reencontrei-a em La Paz, na Bolívia.
A rede de amigos cresceu tanto e de forma tão espontânea. Para além das soluções anteriores cheguei aos amigos dos amigos! Os nossos amigos têm sempre alguém conhecido em qualquer parte do mundo. E, os amigos dos amigos são também nossos amigos. Eles são os mais hospitaleiros que podemos conhecer.
Amigos dos amigos
Foi assim, que conheci o Ricardo e a Joana. Através de amigos da minha terra natal, cheguei a uma Nicarágua desconhecida dos mochileiros. Com eles partilhei uns belos petiscos portugueses, ao qual já nem as minhas xxx gustativas se lembravam existirem! Numa casa escondida entre uma floresta densa e a poucos quilómetros do mar, gozei do conforto do belo Tuani.
Mas a história multiplica-se. Através do Marcelo que conheci no Lago Atitlán cheguei a Antígua para conhecer o Alex. Em pleno centro histórico da cidade, numa casa colonial partilhei momentos musicais fantásticos. Alex é um criativo, dj e pianista de coração. Senti que vivi na sua casa por longos meses. Cozinhamos juntos, levava a cadela a passear, jogámos à bola, fomos ao teatro, fomos a festa de amigos e ainda assistimos a jogos de Portugal. Numa casa partilhada com cinco pessoas, onde a música brindava os dias, o momento mais difícil de viver foi a partida.
Já no Brasil, conheci o Marcel e a Thaís. Amigos de uma prima. Uma empatia genuína travada no primeiro segundo. Aterrei em São Paulo e cai num cenário artístico. Marcel levou-me a ver um documentário sobre uma dança tradicional do brasil que se transformou num pé de dança no boteco da esquina. Depois passados dias, ele levou-me a conhecer a sua família na Ilha Bela. Um paraíso escondido a sensivelmente três horas de São Paulo. Com eles partilhei um belo jantar enquanto tocaram bossa nova no sofá. Apanhei também uns belos banhos de sol na praia e ainda houve tempo para um pé de samba na praça.
No Brasil, poderia fazer um roteiro por casa dos amigos dos amigos ou até menos pelos portugueses a viver no brasil. A lista de contactos triplicou quando cheguei ao Brasil.
Amigos pelo caminho
Os amigos multiplicaram-se. Durante a viagem, a disponibilidade para conhecer pessoas esteve sempre presente. Neste sentido, tive oportunidade de conhecer pessoas que mais tarde me ofereçam estadia em suas casas. Conheci o Carlos quando fazia Workaway na Guatemala e passado três meses cheguei a sua casa na Cidade do Panamá. Em plena Avenida Balboa, no 42º andar, num edifício com dois ginásios e uma piscina no topo do arranha ceús. Quando cheguei ao Panamá não imaginava o palácio que me esperava. Carlos na sua humildade mostrou-me o seu escritório na UNICEF e fez-me sentir em casa.
Mais tarde, conheci a Naya em Bogotá e reencontrei-a em Cusco. Com ela tive oportunidade de conhecer os recantos de Cusco e visitar a sua família nas montanhas além do Vale Sagrado. Fiz amizade com o Renato em Iquitos e meses mais tarde visitei-o em São Paulo. Depois da selva amazónica conheci com ele os museus de São Paulo. Ele no seu regresso a casa e eu a terminar uma longa viagem, alimentamos a viagem entre multidões.
A viagem desenrolou-se sem tempo, sem marcações, com surpresas inesperadas. O viajante tem de estar disponível e sem receios para as surpresas acontecerem. Nada acontece por acaso, a viagem coloca-nos as pessoas certas no caminho. É só preciso estar atento. O sorriso estampado no rosto abre muitas portas. Parece filosofia barata. A viagem é talvez a forma mais imediata de confirmação destas pequenas grandes verdades. Foram tantos os momentos de encontro, que não tenho como não acreditar nelas!
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