Viajava durante quase todo o dia para chegar a Santa Cruz, voltaria ao Lago Atitlán e à Isla Verde, meu lar na Guatemala. Depois de 8 horas de viagem chegava a Antígua para um transbordo para Panajachel. E os problemas começavam…
Há dias que que começam e terminam mal. Dias em que tudo parece correr mal. Dias em que mais valia não sair de casa. A velha sabedoria da avózinha de que um mal nunca vem só, é mesmo verdade. Esses dias existem. Chegava a Antígua para trocar de autocarro e o destino não era o que tinha solicitado na agência. Se não tivesse perguntado várias vezes sobre o destino não ficaria irritada com o assunto. Ademais, as agências livram-se de qualquer responsabilidade. Irritava-me. Queria chegar a Panajachel para abraçar o Marcelo e chegar a Santa Cruz para o jantar e para a minha cama. Tinha saudades e queria chegar a casa para apaziguar a alma depois de um longo dia de viagem. Enfim, seguia viagem para San Pedro (do outro lado do Lago Atitlán) esperando chegar a tempo do último barco que me levaria para Santa Cruz. Se a Guatemala não tivesse tanta curvas, chegaria a tempo. Enfurecia. Saía em San Juan, a povoação mais perto de San Pedro que tanto gostava, sabendo que tinha perdido o último barco. Era tarde, teria de me acomodar à ideia que ia passar uma noite do outro lado do Lago Atitlán. Saia em San Juan mas passado um minuto apercebo-me que uma sapatilha se perdia no amontado de malas no autocarro. Acrescia a minha fúria. Viajava de mototaxi em busca do autocarro e da sapatilha até San Pedro. Depois de 2 ou 3 voltas a San Pedro, finalmente encontrava o autocarro e a sapatilha. Os nervos tomavam conta de mim aliviava a minha tensão com o senhor da agência de viagens e ele irritava-se comigo. Pagava o mototaxi o dobro do preço habitual, já sem forças para regatear o valor. E nisto pensava: “Vou encontrar um quarto, cozinhar e descansar!”
Mas o drama continuava. Encontrava um quarto simples e barato. Tomava um banho quente e começava a cozinhar. A meio da cozedura o gás acabava. Respirava fundo e sem energias para sair, comia a massa meio crua. Não fosse sair e acontecesse uma desgraça maior. Deitava-me a ver um filme e esperava que o dia seguinte fosse melhor…
No dia seguinte chegava finalmente a Santa Cruz depois de me mimar com um bom pequeno-almoço no café da esquina. Chegava ao meu lar na Guatemala. E como sempre, recebiam-me de braços abertos, sorrisos no rosto. Sonhava já com aqueles momentos junto ao lago a fazer yoga, a ler um livro e a escrever. Salivava a comida caseira que preparava com as meninas entre brincadeiras e gargalhadas. Finalmente chegava. E comigo, castigo de um dia mau, levava uma diarreia e febre, que durou dois dias de mal estar.
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