Depois de uma noite na selva rodeada de todos os sons, o dia despertou-me para mergulhar na mais bela cascatas de Palenque, a cascata Roberto Barrios. As estradas serpenteiam-se mas todos os caminhos vão dar a uma cascata. Há a cascata Água Azul e a Misol-Há nos guias turísticos. Mas há sempre algo melhor que só se descobre quando se chega ao destino.
A Cascata Roberto Barrios fica a uma hora de distância de Palenque. As distâncias no México são numa razão completamente diferente de Portugal. Para ir a algum lugar fora da cidade nunca será por menos de uma hora e menos de 50 quilómetros. Mas não tem importância, o caminho é verde com pastos e árvores. Ao final de uma hora cheguei à povoação. O táxi pára para me deixar sair, a única turista nas redondezas. Dois jovens cobram uma entrada e dali sigo pela terra batida até às árvores onde o som da água ouve-se a correr.
O rio é uma cor azul turquesa incandescente. E de ambos os lados da cascata há pequenos trilhos entre as bases das árvores que levam a cada patamar da cascata. Sigo sozinha pelo trilho. E com o mais de meio milhão de bichos que por ali existem. Passados breves momentos um jovem aproxima-se (e eu já sabia destes guias na cascata) com curiosidade de me conhecer e mostrar-me os recantos daquele lugar. Sem ser inoportuno e incómodo “buenos dias!” e dali conta-me as mil aventuras. O meu lado destemido aproveita as belas águas azuis e quentes que descem as cascatas em ziguezague até à piscina final. Pode-se perder ali todo o tempo do mundo. Mergulhei nas águas para descobrir as grutas escondidas com um mergulho profundo. Depois escalei as rochas para saltar dos penedos mais altos. E por último, apoiada numa garrafa de pástico escorreguei a cascada até ao imenso lago mais abaixo. A aventura prolonga-se por horas entre histórias.
A aldeia de Roberto Barrios vive isoladamente, a maioria das pessoas vive da agricultura, onde o milho é o sustento de muitas famílias. Há uma escola, uma clínica, um supermercado e alguns restaurantes. Dali sai um táxi colectivo todas as horas para quem precisa de ir à cidade. A aldeia deixou de ser um caracol, contudo a comunidade vive de forma isolada e parece-me viver sobre os mesmos príncipios.
Mergulhamos nas águas azuis turqueza de novo. E conta-me que deseja viver por ali, não sonha sair da terra como alguns dos seus irmãos que foram para a cidade. E porquê? Porque ali a vida é menos complicada e pode usufruir da natureza todos os dias.
O pensamento traz-me o guardador de rebanho de Alberto Caeiro. Sonho, que seria um tanto mais feliz se vivesse na ignorância do mundo. Na sabedoria da simplicidade.
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