Viñales vive da tradição das plantações de tabaco acolhendo turistas de todo o mundo numa pequena vila nas altas altitudes da costa este de Cuba. O caminho Havana a Viñales vai mudando de cor castanha para uma paisagem verdejante de árvores longas e troncos gordos. O ar quente e húmido torna-se refrescante. Depois de chegar à altitude de Viñales defronta-se um vale escondido entre mogotes, umas formações rochosas imponentes que parecem formar uma muralha a este vale encantado.
Chegava a Casa da Gena cansada da viagem. Acolhida com o sorriso simples e alegre daquela avó, chegava à infância da minha aldeia. Gena vive numa humilde casa com o seu marido e a família do seu filho Sosa. Uma casa de bonecas num pequeno planalto com jardim e uma pequena horta. Ali acolhem alguns turistas e estão sempre disponíveis para dois dedos de conversa afiada e para preparar uma boa refeição familiar. Chegava cansada, com o Peter e o Stefan, dois jovens alemães que viajavam pelo mundo e que mal arranhavam o espanhol. Sentávamos à mesa para comer a tradicional refeição cubana. Continuava ainda na sensação de chegar a casa da minha avó. Uma sopa de legumes para abrir o apetite, um prato de lagosta acompanhada de arroz e salada e um pratinho de salada de frutas para terminar. Um autêntico déjà vu. Estava a chegar a casa da minha avó e ela recebia-me com a amabilidade de sempre e com um bom prato para alegrar o estômago faminto da viagem.
Na manhã seguinte, Alex pontualmente chegava a casa de Gena. Um jovem de chapéu e botas à cowboy que nos levaria a cavalgar pelas plantações de tabaco. Entre os surpreendentes vales verdes e desafogados, onde os mogotes circunscrevem as plantações de tabaco. Nos trilhos laranjas Alex falava-me da sua família. A vida familiar sustentava-se com apenas com o seu salário. Para um trabalhador independente como Alex a vida não é sofrida, o turismo é sempre constante e os 10% de taxa de impostos não será muito para salvar um bom lucro. Além disso, Alex explicava-me que a todas as famílias cubanas mediante o agregado familiar o governo disponha em bancas comerciais produtos nacionais como feijão, arroz, açúcar, milho, pasta dos dentes e tabaco, a preços reduzidíssimos. Acrescentava também que as despesas com a casa são quase nulas. E de seguida sublinhava as principais bandeiras do socialismo castro, saúde e educação gratuitas. A família de Alex que vive na vila de Viñales vive despreocupada apesar de todas as restrições que o socialismo castro lhes impõe.
Entre conversas chegávamos a uma das milhares das plantações de tabaco. O campesino mostrava-nos a colheita do ano. O tabaco colhido entre os meses de novembro a abril, estava agora colocado numas estruturas de madeira a secar numa casa de telhados de bambu e palmeiras. Ali, as folhas de tabaco fermentam com uma solução de mel, limão, ananás e água que é polvilhada regularmente para dar o sabor autêntico ao “puro”. Cada campesino tem a sua solução aperfeiçoada e coloca-lhe o sabor da sua receita familiar. Não há produtos transformados, tudo natural e por isso mesmo, aqui os charutos são denomiados de puros. Ao final de 5 meses o tabaco estará preparado para ser enrolado e encartado. A produção, desde da plantação até ao produto final leva cerca de um ano. O vale de Viñales é um vale de tabaco, várias famílias de campesinos têm aqui o seu sustento e a sua vida. Terrenos que terão sido distribuídos pelas famílias cubanas após a revolução cubana e ao qual o governo usufrui de cerca de 90% da produção anual.
O tabaco impera neste vale encantado e daqui saem os melhores charutos do país. Aliás, é Viñales que coloca Cuba no palco da fama mundial com estes famosos charutos. A viagem a Viñales transportava-me para a sensação extraordinária de estar numa vila no meio de um vale perdido e encantado, a conhecer as origens dos mais famosos e caros charutos do mundo!
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