Diários-Portugal

Ponte da Barca, sempre formosa e contente!

Janeiro 5, 2016

“Ponte da Barca, Sempre formosa e contente! É tanta a graça, Que cativa toda a gente!” O hino não se pode adequar melhor a esta nobre vila. Há vários anos que tenho um enamoramento com esta traquina e vibrante vila minhota. Em época festiva ao Santo Bartolomeu, rumo a casa da Ângela e do Sérgio para festejar o arraial minhoto até o sol raiar.

Em pleno centro da vila bato à porta do hostel Magalhães. O navegador Fernão Magalhães terá nascido por estas terras mas só ficou conhecido pelas suas viagens heróicas em alto mar. É aqui, que inicio a minha viagem pelo arraial minhoto com o abraço forte à Ângela e ao Sérgio, que têm este espaço reinventado por eles com a ajuda dos amigos. São eles os responsáveis desta minha paixão por Ponte da Barca e como sempre, é com eles que viajo pela romaria.

Foi no Cantinho do Parada – Memórias de Mãe, onde precisamente nasceu o hino desta vila, que nos sentamos para saciar o apetite com os tradicionais pratos minhotos. Na esplanada do largo os amigos vão chegando e até os próprios donos e empregados deste espaço são amigos dos meus amigos. É como sentar em casa e saciar a saudade com uma bela posta de carne barrosã ou uns belos lombos de bacalhau acompanhados de cebolada, batatinhas fritas à rodelas e um legumes refogados, à maneira do Gil. No pequeno largo, um estendal de lenços minhotos azuis, amarelos e vermelhos decoram as casas, e por elas vão saindo as famílias com as tradicionais camisas azuis e vermelhas para começar a romaria.

Saímos deste largo pacato e familiar, descemos uma pequena escadaria entre casas pequenas e logo a música já dança no largo da Urca. Ao centro um grupo de concertinas com rapazes jovens e homens de bigode tocam com ritmo e muita seriedade as tradicionais músicas minhotas. Ao seu redor, os casais vão-se juntando para dançar a chula, o malhão, a cana verde e tantas outras. Os homens com castanholas em punho e olhar sério sem um esboço de sorriso. As mulheres de saias rodadas, outras com lenços coloridos à cintura. Pensava eu que a dança seria um espaço de partilha, de sorrisos e de alegria estampada no rosto. Mas aqui, cuidado, quando entramos na roda precisamos saber dançar, caso contrário saímos bem calcados ou empurrados com afifes mal humorados. E roda que roda, é dança até o sol raiar.

Na avenida principal as familias, gente pequena e graúda, vão parando aqui e acolá cumprimentando as gentes da terra vindas de frança, da suíça, da capital e outras cidades. Todos os eles marcam ponto em Agosto na festa de São Bartolomeu. É o verão e a saudade que fazem as conversas em plena rua. “Olha o teu João, que grande tá o rapaz!” “Oh Maria, que bonita cachopa!” “O meu Manel está na frança chega amanhã”

E por ali fora, as barracas de doces, presuntos e chouriços perfilam com as cores dos arcos luminosos com fotografias dos trajes tradicionais minhotos. Caminha-se em jeito de romaria brindando com os amigos junto à ponte romana a olhar o rio Lima, depois percorre-se o jardim dos poetas até ao mítico Belião. Um pé de dança aqui e outro acolá. Os miúdos quando o sono aperta vão para casa ao colo com a pestana a fechar. Depois disso, Os pais seguem à segunda ronda da festa até de manhã no Café Central. “Apita o comboio”, “Ai, ai burrito”, “Eu tenho dois amores” a música pimba toma conta da avenida principal. Toda a gente baila, canta e brinda. E até o carro do padeiro que começa a circular tem paragem obrigatória aqui. Conta a Ângela, que um certo dia de romaria o primeiro autocarro da manhã aqui teve de parar e toda a malta apitou o comboio dentro do autocarro. No Café Central já com os pés a colar ao chão, ao balcão ainda se servem uns pregos bem saborosos, e só assim se aguenta toda a noite entre jovens e velhotes a bailar até o sol raiar.

A festa encerra no inicio da manhã, o cântico de Ponte da Barca fica para todo o sempre, um enamoramento que repito todos os anos. “Ponte da Barca… Que linda é! Ser só traquina, Loira menina P’ra dar ao pé!…”

 

Foto de Ângela Carvalheira

Facebook Comments

Também vais gostar

Sem Comentários

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.