Era um dia solarengo com o sol a beijar os pés. Mas para quê que quero pés senão para levantar vôo? Estava no Rio de Janeiro e não poderia deixar de viver uma das experiências mais radicais na cidade maravilhosa!
Pela manhã, chegava a praia San Conrado e Joe esperava-me. Uma energia característica de um grande viajante, um carioca com o sorriso nos olhos próprio de quem revira a vida para viver um sonho. A viagem, como sempre, colocava-me no caminho pessoas com fantásticas histórias de coragem. Joe Voador, assim é conhecido. Depois de uma vida de mais de 20 anos a trabalhar como engenheiro informático, fechado num escritório, decidiu viver outra vida. Das redes informáticas saltou para as redes do parapente e do kitesurf. Do escritório para as praias do Rio de Janeiro. E com ele traz o seu filho de apenas 2 anos de idade. Júnior é já a imagem do seu pai. Na sua tenra idade já sabe subir paredes e serpenteia os ceús do Rio de Janeiro; já tem um corte radical e até tem ar de rufia radical! E há melhor herança que esta? A sabedoria do pai a hiperbolizar no seu filho. O sorriso de traquina a dar sentido à vida de um pai. Bem, carioca é isto! Vive a paixão porque pensa que não é possível viver de outra forma!
Naquela manhã em San Conrado depois de Joe me dar as indicações e falarmos sobre as coincidências da vida, seguíamos para a Pedra Bonita.
Um, dois, três, seguir em frente até os pés deixarem de sentir o chão. Passo firme e seguro como se deve sempre comandar a vida. A viagem sobre os ceús do Rio de Janeiro mostrava-me um olhar angular sobre a cidade maravilhosa! Tinha a sensação egocêntrica de ter o mundo a meus pés. A película dos últimos nove meses passava diante de mim numa fração de segundos.
O ceú limpo, o mar calmo, a floresta a eclodir da Terra, os prédios altos a desvanecerem, as favelas a gritarem samba, o horizonte longínquo, o mundo redondo.
Uma viagem de dez minutos que me trouxe à pele uma viagem de 9 meses. Há momentos que pairam em fracções de segundos entre o sonho e a realidade, que reinventam uma vida em minutos e que se ecoam infinitamente na história de um viajante. Se na linha da morte há um túnel branco e poderemos ver a vida a passar em segundos, então, nos ceús doRio de Janeiro diria que o mundo é redondo, que seu núcleo é quente e aspira-nos, e que, a vida é uma viagem faz estremecer os olhos com tanta cor.
Era um dia solarengo, os pés levantaram vôo. E há melhor forma de terminar uma viagem senão saltar no abismo da cidade maravilhosa?
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