Ser mulher e viajar sozinha são duas aspectos que faz muita confusão a muita gente. A primeira vez será sempre aquela que faz sentir borboletas na barriga. Mas depois disso, os mitos saem da mala de viagem e tudo torna-se mais simples.
Ser mulher coloca-nos numa situação de fragilidade à vista dos outros. É um dado quase que universal. A verdade é este pré-juízo faz com que haja algumas vantagens para as mulheres. Primeiro, quando há algum perigo, quase sempre somos as primeiras a ser avisadas e protegidas. Depois, o facto de sermos conscientes acerca do nosso gênero muitas das vezes não nos colocamos em situação de risco à partida conhecido. Por isso, talvez sejamos mais cautelosas. Quando viajei para o Egito encontraria-me com um grupo de viagem num hotel no centro da cidade. Naquela altura (2011) já o país se encontrava instável mas a embaixada não que colocou em alerta nem me desaconselhou a viajar. O que é certo, é que assim que cheguei à saída do aeroporto e meu shuttle não me aguardava, havia agentes do ministério do turismo, bem identificados, a ajudar os turistas que ali chegavam. E tudo correu sem problemas. O hotel estava a alguns metros da praça Tahrir e até visitámos o museu do Cairo que se encontra em plena praça. O turismo no Egito tem uma grande importância no PIB do país e naquela altura o ministério do turismo e os próprios guias tinham muito cuidado com os turistas. Ser mulher não significa estar mais em risco de agressão ou de assalto. Na minha cidade, onde sou mais desleixada na questão da segurança, todos os casos que conheço de assalto ou agressão aconteceram com homens. É certo, que poderá acontecer mas pode acontecer em qualquer parte do mundo. É certo, que há países mais arriscados mas quando se viaja para esses locais já estamos à partida preparados para o que possa acontecer. A vida continua e viver implica perder o medo de viver.
Ser mulher e viajar sozinha é considerado então um risco duplo mas na minha opinião e a minha pouca experiência (3 viagens) abre um leque de situações positivas. A segunda vez que viajei sozinha simplesmente aconteceu por imprevistos na vida. Tinha planeado 3 semanas no Sudoeste asiático com uma grande amiga. Já tínhamos sido companheiras de viagem e portanto seriam umas grandes férias numa cultura completamente estranha a ambas. Bem, os planos profissionais dela alteraram-se e eu com bilhete na mão não queria perder a oportunidade de conhecer pela primeira vez o continente asiático. O que posso dizer da experiência?
Nunca estive realmente sozinha. Mal cheguei a Banguecoque encontrei-me com dois amigos belgas da minha prima, um deles fluente em português, e que nos seguintes dias foram os meus companheiros de viagem. O mais curioso, é que nestas 3 semanas, houve alturas que reencontrei pessoas que fui conhecendo pelo caminho. E coincidência das coincidências é que reencontrei no final da viagem duas viajantes, mãe e filha, que tinha conhecido na primeira semana que estive no norte do Vietname em plena confusão da Khao San Road em Banguecoque. Nessa noite, re-viajamos nas nossas aventuras durante um belíssimo jantar.
Tornei-me mais independente. O facto de ter de planear tudo sozinha, de ter que gerir com atenção diariamente o meu dinheiro ou de ter de falar em outros idiomas, fez-me literalmente aumentar as minhas capacidades.
Tive tempo para estar comigo. Foi a minha viagem, fiz tudo aquilo que eu queria fazer. Tive tempo para refletir, ler um livro sem paragens, fotografar sem interrupções e até mesmo de olhar mais atentamente.
Tive tempo para estar com os outros. Ao viajar acompanhado as atenções centram-se em nós. Ao viajar-se sozinha abre um leque de oportunidades. Conhece-se pessoas de todo o mundo porque se está disponível para conhecer novas pessoas e daí podem surgir grande amizades ou até novas paixões. Todos aqueles que conheci em viagem fiquei de algum modo com alguma ligação.
No final da viagem, há a sensação de liberdade suprema. Quem viajou sozinho torna a viajar sozinho. E o gênero não tem importância nestas considerações. Viajar é preciso!
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